segunda-feira, 28 de junho de 2010

[1]

O segundo vem no dia previsto. (:



Lá estava ela no mesmo sítio de todas as noites.
Lá estava ela, naquele palco em frente a toda aquela plateia, na sua maioria masculina.
Lá estava ela, novamente, abraçada àquele “poste de metal”, àquele varão.

Beatriz Blilie tem 21 anos de idade e é órfã de pais desde os 17. Vive sozinha na mítica cidade de Berlim e trabalha como stripper no clube nocturno Magnólia. Não tinha tido uma vida fácil, e quando as oportunidades são escassas à que as aproveitar.

- Hannah Blye! – um dos gerentes do clube nocturno chamou Beatriz pelo seu nome artístico. Ela, semi-vestida num corpete de ligas negro, subiu ao palco e elevou-se no varão.
Se havia coisa que mais confusão lhe metia, era a quantidade de homens que vinham ali para a ver. Sim, Beatriz era a estrela da companhia. O seu corpo delineado, as pernas altas e esguias ligeiramente bronzeadas, os seus seios firmes e libidinosos, a sua barriga lisa e os seus olhos negros, capazes de engolir qualquer um, a juntar ao seu cabelo ruivo enlouqueciam qualquer homem. A sua dança era uma espécie de magia, algo que no seu íntimo tinha como finalidade a conquista. A conquista da passagem da palavra entre o público e a quantidade de clientes que viriam no próximo espectáculo. Ela era, mais ou menos, como o isco de todo o negócio. Fora parar ali por mero acaso, mas imediatamente se apoderaram dela, do seu corpo e da sua dignidade para darem azo ao negócio negro que era aquele clube.



[Flashback]


- Bom dia. – Beatriz entrou numa espécie de bar, ou pelo menos assim lhe parecia. Olhou em redor e viu sofás, um palco, um balcão tudo muito agradável e, do nada, uma rapariga apenas em roupa interior passou por si. – Ahm, eu vinha à procura de trabalho…
- Trabalho? – o homem, que dizia ser o gerente daquilo, olhou o seu corpo de alto a baixo, parou diversas vezes no seu decote, e contornou as suas pernas outras tantas. – Tens experiência?
- A servir à mesa? Nem por isso, mas posso sempre tentar… - ele riu-se.
- O teu corpo não serve para servir à mesa… a não ser que queiras ser servida numa mesa. – olhou-a num sorriso estranho, num trocadilho.
- Como assim?
- Sabes o que é aquilo? – perguntou apontando o poste de metal existente no palco.
- Não.
- Varão. – limitou-se a dizer. – E pelo que vejo, és o potencial excelente para o lançamento do Magnólia, amanhã à noite.
- Desculpe, está a dizer que isto é um clube de strip? – perguntou indignada.
- Estou, e estou a dizer que estás admitida ao trabalho! Quer queiras, quer não. – o sorriso que ele anteriormente apresentava desapareceu. No lugar do sorriso uma cara de mau da fita apareceu e Beatriz, quer quisesse quer não, era realmente obrigada a trabalhar ali. - Agora, minha querida… - passou-lhe um dedo pelo queixo e desceu-o até ao seu pescoço - … és minha propriedade, e a flor Magnólia.



[/Flashback]


Conhecia todas aquelas caras de cor, todas elas. Já tinha passado uma noite com muitas delas e sinceramente, para ela, já era como respirar. Era tão normal, tão rotineiro, tão parte do seu ser. Era o seu prato do dia. Ou deverei dizer que ela é que era o prato do dia?
Fosse como fosse era um trabalho, talvez não como qualquer outro, mas era um trabalho. Passar a ferro para fora ou vender o corpo era perfeitamente o mesmo.
Deixou o seu físico navegar mais um pouco contra aquele objecto de metal que ia do chão ao tecto. Deixou que a audiência soltasse palmas, gritos, guinchos ou assobios ao verem as suas coxas dominarem aquele objecto como mais ninguém fazia.
O seu sorriso provocador, os seus movimentos de ancas sincronizados, os seus suspiros que volta e meia fazia com que se ouvissem eram, sem dúvida, a maior atracção daquele espaço.

Passou mais uma vez os olhos pela sala antes de sair com um mortal do palco. Viu algo que não esperava. Afinal, no meio de tanta gente que já fazia parte da mobília, duas caras que ela não conhecia estavam entre o público. Saiu do palco e chamou James ao seu encontro. James era, por assim dizer, a única pessoa em quem Beatriz confiava verdadeiramente naquela espelunca. Era como que um melhor amigo.

- Que foi, boneca? – perguntou no tom pouco formal que usava com ela.
- Quem são aqueles dois?
- Quais aqueles dois? – perguntou sem perceber.
- Havia duas caras novas na audiência. – disse.
- Hum, não sei vou ver. – espreitou pela cortina que tapava um pouco do palco. – As caras deles não me são estranhas… - disse alternando a cara dela com a cortina - … ou já cá estiveram, ou são famosos. – explicou-se. Ela riu.
- Famosos? Nesta coisa? Estás a sonhar… - encaminhou-se para o seu camarim.
- Oh, podem já cá ter estado. – disse seguindo-a.
- Isso digo-te que não!
- Então são famosos! – encolheu os ombros sentando-se num dos mini sofás do camarim, enquanto ela se sentava na cadeira, frente ao espelho, para tirar a maquilhagem.
- Famosos aqui… era bom para o negócio. – pensou alto.
- Ui, estás a ficar pior que o Charles! – disse. Ela riu. Charles era o gerente total do Magnólia, aquele que já lhe tinha feito a vida negra.
- Se pensares bem é verdade!
- Sim, mas…
- Esquece, estamos a fazer uma tempestade num copo de água!
- Provavelmente. – encolheu novamente os ombros e afundou-se no sofá, pegando numa revista qualquer que ali estava em cima da mesa.
Desfolhou a revista em escassos segundos até encontrar as duas caras que vira à minutos atrás na audiência do clube.
Beatriz trocou o seu traje de dança, por uma lingerie negra totalmente normal, coberta com umas calças brancas justas e um top preto.

- Eu disse-te que eram famosos! – James saltou do sofá.
- Han? – ela olhou para ele com cara de parva. – Estão aí?!
- Bingo. Tom Kaulitz e Georg Listing! – citou os nomes que lia num dos artigos da revista.
- Mostra! – ele passou-lhe a revista. – Tokio Hotel… - leu por alto, nem olhando a fotografia que vinha em anexo. - … eu já ouvi isto. – olhou a porta onde um dos empregados espreitava.
- Foste requisitada. – disse.
- Por quem? – perguntou, afinal já conhecia praticamente toda a gente que a requisitava para uma noite nos seus braços. Não podia negar que, agora, cerca de quatro anos depois de começar a trabalhar naquele clube, também ela saía a ganhar de cada noite. Não era só bom receber a quantia exagerada de dinheiro ao final do mês, mas ao final de cada dia ter sempre um corpo em que ela pudesse refugiar a mente. Acabava por usar aqueles que a usavam. Afinal a vida é feita de trocas, certo?
- Não sei e não disse o nome…

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