terça-feira, 31 de agosto de 2010

[20]

Próximo, quinta (:


- Mãe, mãe! – Ryan abanava o corpo de Beatriz sobre a cama.
- Que foi, amor? – perguntou ao pequeno virando-se para ele, meio adormecida ainda.
- Quando é que vou ver o Tom outra vez? – perguntou. Beatriz arregalou os olhos e esfregou-os abrindo bem os ouvidos. Agora sim estava acordada.
- Tu queres ver o Tom outra vez? – perguntou. Ryan riu-se da cara da mãe.
- Sim, gostei dele. – subiu com alguma dificuldade para cima da grande cama e sentou-se aos pés de Beatriz. – E gostei daquelas coisas que ele tinha na cabeça. – disse. – Também posso fazer? – Beatriz riu-se e puxou o rapaz de cabelos escuros para si, abraçando-o.
- Logo se vê, filho. Queres mesmo umas coisas daquelas? – Ryan acenou afirmativamente. – Então quando tiveres a idade dele! – disse.
- E que idade ele tem? – perguntou, também não era assunto que lhe interessasse mas já que a mãe perguntava…
- A mesma que eu. – respondeu.
- Oh, isso é muito tempo! – saltou da cama e cruzou os braços. Beatriz sorriu perante a figura pequenina.
- Logo se vê. – disse saltando também da cama. – Agora vamos vestir e ir para a escola. – pegou nele ao colo antes que tivesse tempo de fugir.
- Não quero! – agarrou-se ao pescoço de Beatriz. Lá estava a habitual birra das 8 da manhã.
- Amanhã já não vais, é fim-de-semana. – respondeu, pousando-o no chão do quarto azulado, o quarto do filho. Ryan sentou-se na cama abanando as pernas.
- E o Tom, mãe? – perguntou novamente. Beatriz não sabia se havia de ficar contente ou preocupada. Ryan e Tom falavam um do outro sem quaisquer problemas, a sua vida estava a correr demasiado bem e ela não estava habituada a ter tanta felicidade reservada. Será que havia qualquer coisa prestes a acontecer? “Vá lá, Bea aproveita!” respondeu-se a ela mesma. “Não são todos os dias que o teu pseudo-namorado gosta do teu filho!”
- O Tom está de férias, amor… - disse despindo-lhe o pijama.
- Mas ele vai ficar de férias para sempre? – perguntou com uma confusão própria da idade.
- Não. – riu-se. – Fazemos assim… quando ele vier de férias vem jantar connosco, ok?
- Sim! – Ryan saltou da cama fazendo Beatriz sorrir. O pequeno correu pela casa apenas em cuecas, aproveitando o facto de se ver livre das mãos da mãe.
- Anda cá, ó peste não te livras da escola! – Beatriz correu atrás dele, conseguindo apanhá-lo na cozinha.

- Vocês são sempre a mesma coisa! – riu-se Sofia deixando a leitura e a caneca do leite para mirar os dois protagonistas da cena.
- Já sabes! – riu-se – Mas que fazes levantada a estas horas? – perguntou, afinal Sofia já tivera acabado todos os trabalhos da faculdade e estava de férias.
- Vou espairecer. – disse.
- Porque é que isso me cheira a rapaz? – Ryan escapou-se para a sala.
- Porque é. – suspirou. – É assim tão difícil encontrar o meu Tom? – sorriu apreciando o facto da amiga ter encontrado ‘o tal’, ou pelo menos parecia.
- Ele há-de aparecer. – sorriu-lhe. – Bem, vou ver do Ryan. – dirigiu-se à sala para o apanhar e voltar ao quarto com Ryan no colo a berrar que não queria ir para a escola, mais uma vez.

(…)

Sentia o seu corpo praticamente no auge. Sentia-a arrebatar contra si e podia sentir que aquilo seria muito mais que um orgasmo partilhado a dois.
Conseguia ouvir os seus gemidos altamente femininos no seu ouvido. “Tom…” Ouvia e ouvia vezes sem conta. Gostava. Aquela voz. As suas mãos passearem no seu corpo, a sua essência misturada com a dela. Os seus lábios insistiam em morder o ombro dela e a sua voz continuava a chamar por si…

- Tom! Óh Tom, acorda! – Bill abanava-o já farto de chamar por ele, sentado na cama, vendo-o morder a almofada. – Tom! Que caraças. – preparava-se para se levantar quando sentiu Tom gemer qualquer coisa e puxá-lo pelo pescoço. – TOM! – berrou empurrando-o bruscamente, levantando-se.
- Hum… - Tom mexeu-se - … Bea. – disse, ainda que demasiado emaranhado e sentido, mas Bill percebeu.
- Bea? Este gajo está a sonhar e eu é que sou abraçado, pois está bem. – dirigiu-se à casa de banho e encheu o copo de lavar os dentes com água. – Acorda oh sonhador! – disse atirando-lhe a água para cima. Tom soltou um berro sentando-se na cama, coberto até à cintura pelos lençóis brancos, ainda meio ofegante.
- Mas tu és parvo? – Tom perguntou, olhando o irmão com as mãos na cintura e cara de poucos amigos. – Achas correcto?
- Bem, depois de estar a chamar-te à séculos sem sucesso, de me abraçares e de me chamares Bea… - enumerou - … acho correcto sim. – disse encolhendo os ombros.
- Estava a sonhar, dá-me o desconto. – refilou levando uma mão à testa, recordando o momento e sentindo-se ainda demasiado excitado, olhou para baixo. Tom estava excitado sexualmente. – Bill, queres ir onde? – puxou a almofada para o meio das pernas, desviando assunto.
- Ver a cidade, importas-te de levantar o rabo da cama?
- Claro que não! – disse de sorriso amarelo, faltava-lhe agora o irmão gozar com ele pela excitação não propositada. – Vai tomar o pequeno-almoço que eu já lá vou ter.
- Já tomei. – disse, olhando-o. – Mas vou deixar-te sozinho e entregue à mão! – riu-se, já tinha percebido que tipo de sonho o irmão estava a ter. Saiu quarto.
- PARVO! – berrou-lhe atirando a almofada contra a porta. Levantou-se e apoiou o braço na parede, apoiando nele a testa meia molhada. – Preciso de um banho. – constatou.

*

- Mais descontraído? – perguntou Bill rindo, assim que o viu sentar-se no sofá a comer um iogurte.
- Estou a dar em louco. – confessou, sentindo falta de Beatriz.
- Prepara-te… vem aí a Tour. – disse-lhe.
- Não me lembres disso. – suspirou encostando a cabeça para trás. – Eu morro até lá. – disse.
- Tom, por amor de Deus, é só uma rapariga! – disse-lhe, apesar de saber que não era bem assim.
- Não é só uma rapariga! – argumentou levantando-se andando pelo compartimento. – É a rapariga de quem eu gosto! – Bill sorriu-lhe. – É verdade, Bill.
- Eu sei, sinto-o. – aproximou-se de Tom e olhou-o fundo nos olhos pousando as mãos nos seus ombros. – Se achas que precisas de cometer loucuras para a ter sempre contigo, comete. Se achas que precisas de mover montanhas para que seja apenas tua, move. Se achas que não vives sem ela, diz-lhe isso. Deixa-te guiar pelo coração uma vez na vida, mano. – pousou-lhe a mão sobre o peito, do lado esquerdo. – Ele sabe sempre o que fazer. – Tom suspirou abraçando o irmão.
- Achas que lhe deva pedir para vir em Tour? – perguntou pensado demasiado rápido no que o irmão lhe tinha dito.
- Se achas bem… - encolheu os ombros - … sim. – sorriu.
- Obrigado! – inspirou fundo e pôs um sorriso na cara. – Vamos passear então! – preparava-se para sair da casa quando...
- Hey, primeiro deitas aquilo fora! – advertiu apontando a embalagem do iogurte pousada ao lado do sofá.
- Pareces a mãe, meu chiça. – refilou voltando atrás no caminho e obedecendo ao irmão mais novo dez minutos que ele.

(…)

Sentou-se no sofá, de braços cruzados mirando a parede vermelha à sua frente. Não sabia o que fazer da vida. Não sabia qual era o próximo passo a dar. Estava confusa. Primeiro tinha-se decidido a falar com Charles e a fazer-lhe frente, mas a ideia de perder Ryan por essa atitude heróica demoveu-a, já para não falar do que Tom lhe dissera e que confirmava a questão anterior. Talvez devesse esperar que Tom voltasse para poder falar com ele e resolver a sua vida de uma vez por todas, aquelas confusões no seu consciente incomodavam-na demasiado. Já começava a conversar consigo mesma sem arranjar respostas, isso frustrava-a.
Olhou o telemóvel sobre a mesa e decidiu matar saudades da voz que lhe aquecia o coração.

**
- Beeeaaaa!!! – fora Bill que atendera o telefone.
- Ahm, Bill? – perguntou sem ter certeza, rindo.
- Sim. – confirmou feliz – Tudo bem?
- Sim e contigo? – perguntou entusiasmada.
- Dá cá isso óh cabeça de laca! – Beatriz ouviu Tom do outro lado e riu-se.
- Tudo à excepção do teu namorado que não me deixa ter uma conversa decente contigo! – Beatriz riu novamente.
- Dizes bem Bill, quem é o namorado sou eu, por isso dá cá o telefone! – refilou tentando tirar-lhe o próprio telemóvel das mãos.
- Bem, Bea o Tom ainda me mata e depois não te posso conhecer, por isso beijinhos. – riu-se.
- Beijinhos, Bill. – ela riu-se também.
- Olá. – fora a voz grave e sensual de Tom que soara ao seu ouvido e fizera o seu ritmo cardíaco acelerar.
- Olá, Tom. – respondeu. – Foram passear?
- Sim, viemos ao centro da cidade, sinceramente não acho que tenha grande coisa para ver mas o meu irmão é aquela base. – riu-se.
- Acredito. – riu com ele. – Já sabes quando voltas?
- Claro que sim! Dentro de dois dias estou de volta a Alemanha. – disse. – Morto de saudades tuas… - acrescentou num tom mais baixo e mais sentido, dando logo pelo olhar de gozo de Bill em si.
- Também tenho saudades tuas… - respondeu no mesmo tom. - … quero tanto que voltes. – suspirou. – Bem, não entremos em lamechices! – impôs-se. – O Ryan quer voltar a ver-te…
- O Ryan? – sentiu-se admirado.
- Sim, diz que gostou de ti. Inclusive me pediu para fazer, e usando as palavras dele, umas coisas como as que tu tens na cabeça! – Tom soltou uma gargalhada sonora.
- A sério?!
- Sim. – respondeu – Que me dizes de cá virem jantar quando chegarem? – propôs.
- Oh, a mim parece-me perfeito! E deixo de ouvir o Bill dizer que te quer conhecer!
- Já sou assim tão famosa?
- Nem imaginas. – riu-se. – Está mesmo curioso para te ver!
- Uhh, sou assim tão gira é? – perguntou mais sensualmente.
- Demasiado gira até, mas não é para ele! – ela riu-se. – És muita areia para o carrinho de brincar do Bill! – Bill, que tivera ouvido o comentário, espetou-lhe um calduço. – ‘Tá quieto! – Tom protestou, fazendo Beatriz soltar nova gargalhada.
- E para o teu carrinho de brincar não sou areia a mais? – perguntou mais pela provocação do que pela curiosidade, sabia perfeitamente que Tom conseguia com ela de todas as maneiras possíveis e imaginárias.
- Eu não tenho um carrinho de brincar, Bea tenho um autotanque dos bombeiros e tu sabes disso muito bem! – disse senhor do seu nariz, assistindo à gargalhada em uníssono de Bea e do irmão. – Vocês estão demasiado coordenados para meu gosto! – refilou frustrado.
- A cena do autotanque matou-me, a sério. – era Bill que ria desalmado. Podia já ter ouvido falar em camiões, camionetas, carros, carrinhas e coisas semelhantes para aquela frase feita, mas autotanque? Só mesmo Tom para uma ideia daquelas, totalmente absurda.
- Mas sim, Tom… - começou Beatriz - … tu tens um autotanque. – riu-se, não conseguindo conter-se mais.
- Estou lixado com vocês os dois… - disse elevando ambas as sobrancelhas. – Mas se é para continuarem a gozar comigo acaba-se já aqui a conversa! – ameaçou, levantando-se da cadeira da esplanada onde estava sentado. – Bill, fica aí que eu tenho umas coisas a fazer com ela. – disse olhando o irmão e apontando o telemóvel.
- Até parece que sou um cãozinho para me dizeres para ficar aqui. – Bill protestou e Tom encolheu os ombros.

- Que tens para falar comigo? – perguntou Beatriz depois de uma gargalhada pela conversa que ouvia Tom ter do outro lado.
- Não vejo o dia de voltar a estar contigo. – confessou encostando-se à parede, do lado oposto da esplanada.
- Somos dois. – suspirou. – Mas só faltam dois dias, vamos pensar positivo. – sorriu.
- Sim. – Tom concordou com um sorriso. – Como estão as cenas no clube?
- Eu acho que não vou fazer nada, vou deixar andar assim e quando o Charles descobrir que não faço mais nada para além do espectáculo no varão, logo vejo. – encolheu os ombros.
- Se achas o mais certo eu apoio-te, mas ainda assim faz-me confusão estares praticamente nua em frente àquela gente toda!
- Também já estiveste entre aquela gente toda…
- Eu sei, mas era diferente.
- Como assim? Não foste lá só para teres uma boa noite? – perguntou.
- Sim. Mas deixei-me levar. Os que lá vão provavelmente são todos casados! – refilou, ela riu. – Qual é a graça?
- São, são todos casados, é que nem se dão ao trabalho de tirar a aliança. Isso sinceramente mete-me nojo.
- Mas continuavas lá…
- E que querias que fizesse?! Sabes como está a minha vida! – disse meio irritada. – A minha saída do clube vai-se dar apenas por tua causa! Mudaste-me, mudaste a minha maneira de pensar! Fizeste-me sentir aquilo que julguei estar completamente perdido para mim. E para além de me fazeres sentir mulher, Tom fizeste-me sentir pessoa e isso é algo que nunca te vou conseguir pagar! – suspirou. Tom sentiu as pernas fraquejar ao dar conta que aquelas palavras o atingiam directamente no coração. Ela era sua, e planeava pôr em risco a própria vida e a vida do filho por si. Tom não se podia queixar da situação quando Beatriz parecia gostar demasiado de si.
- Não tens que me pagar. – conseguiu pensar. – Eu gosto muito de ti Bea, e por gostar tanto quero que sejas apenas minha, não te quero ver a exibir partes íntimas a outros! – disse meio sério meio brincalhão odiava ambientes pesados, por isso se os pudesse aliviar, fazia-o.
- Compreendo-te. – levantou-se do sofá andando à volta da sala.
- Desculpa se é pedir demais mas… - ela interrompeu-o.
- Demais, Tom?! Isso é uma prova para mim. – sorriu. Ele suspirou.
- Dentro de dois dias vais poder dizer-me isso nos olhos.
- Já não era sem tempo. – respirou fundo voltando a sentar-se.
**

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

[19]

Próximo, terça (:


Tinham chegado ao bungalow que alugaram numa das praias mais calmas das Maldivas.
Bill atirou-se imediatamente para o sofá.
- Uh, é confortável! – disse assim que aterrou no dito sofá. Tom riu-se.
- Estou a ver que o teu mau humor passou rápido.
- Chegámos bem e não houve nada a interromper pelo meio, por isso não tenho razões. – sorriu-lhe.
- Tu não és mesmo normal, ninguém diria que és meu irmão gémeo. – disse sentando-se no chão, deitando-se a seguir.
- Também ninguém diz. – disse – Bem, mas conta lá a tua noite…
- Estás mesmo à espera disso? – perguntou Tom virando a cabeça de modo a encará-lo.
- Estou. – encolheu os ombros.
- Então bem podes esperar sentado. – levantou-se num salto e dirigiu-se ao seu quarto. – Vou para a praia, vens? – questionou.
- Se não me vais contar o divertimento, acho que sim.
- Já vês o meu divertimento nas minhas costas! – riu-se. Bill parou, não tinha percebido.
- Han?
- Esquece, não estou para te explicar piadas. – respondeu imitando o que o irmão lhe tivera dito naquela manhã, no carro que os levara ao aeroporto.
- Tu és mesmo estúpido! – riu-se e dirigiu-se ao seu quarto envergando uns calções de banho.
- Sou teu irmão! – riu Tom.

Dirigiram-se à praia, que se encontrava totalmente deserta. Aquilo era certamente o paraíso depois das gravações do álbum e antes da grande Tour Europeia.
Tom pousou a toalha sobre a espreguiçadeira e atirou-se rapidamente à água, num mergulho que parecia dar-lhe ainda mais vida. Bill riu-se da reacção do irmão. Ou se enganava ou Tom precisava mesmo de descansar e, talvez, não pensar naquilo que Beatriz andava a fazer. Segundo o que sabia, Beatriz continuaria no clube e, mesmo ela dizendo-lhe que não iria acontecer nada para além da dança, Tom estaria sempre de pé atrás.
- Lá vai bombaaaa! – Bill atreveu-se também, iria deixar os problemas em terra e dar-se àquela vida com todo o amor que tinha para dar a quem não existia. Naquela semana, a sua ligação com Tom seria a única coisa a que daria importância. Bem isso, a praia e seus derivados.

(…)

Sim, tinha ido. Sim, tinha-se dado à dança. Sim, tinha relembrado a noite anterior em frente a tanta gente que não sabia o que lhe atravessava a mente. Sim, tinha desistido de ir para a cama com quem lhe pagasse para isso.
Poderiam achá-la muito lamechas mas, a partir do momento em que o seu coração fora entregue a Tom que, ter relações com outras pessoas que não ele, a levavam ao vómito. Despediu-se da pequena multidão com o mortal habitual, saindo do palco.
- Estás diferente… - fora a observação que ouvira assim que o seu corpo aterrou sobre a superfície macia do sofá do seu camarim.
- Como assim? – olhou James.
- Estás diferente na maneira como te dás. – disse – Parece que este já não é o teu objectivo de vida. – observou cuidadosamente cada movimento que a melhor amiga fazia. – O que é que se passa que eu não saiba? – perguntou sentando-se ao lado dela, passando-lhe um braço pelos ombros e dando-lhe um beijo na bochecha. Beatriz sorriu, aquele gesto que ele sempre fazia quando a via diferente, preenchia-a.
- O Tom… - disse olhando-o e James acenou com a cabeça dando-lhe a entender que sabia a quem se referia. - … nós temos uma cena, e eu gosto dele e ele diz gostar de mim e… - interrompeu-se olhando-o.
- Estás apaixonada, não é? – ela podia enganar toda a gente à face da Terra, mas não ele.

[Flashback]

- Estás bem?! – James entrara de repente pelo bar dentro encontrando Beatriz estendida no chão, ao lado do varão.
- Mais ou menos. – mexeu-se emitindo gemidos de dor, tentando pôr-se de pé.
- Não pareces bem, Beatriz. – disse ajudando-a a levantar-se. – Que estavas a fazer?
- O director quer ver-me no varão, tenho que conseguir! – disse confiante. – É trabalho. – respondeu-lhe encolhendo os ombros.
- Meu Deus, tu levas os trabalhos todos à risca? – perguntou.
- É a primeira vez que trabalho. – disse. – Pensei que já sabias. – olhou-o, agradecendo-lhe com o olhar o facto de a ter ajudado a sentar-se num dos sofás.
- Não… ninguém mo disse.
- Pensei, como já passou um ano desde que estou aqui…
- Um ano?! – ele surpreendera-se com as palavras de Beatriz. – Tanto tempo? Que idade tens?!
- 18. – respondeu a medo olhando-o. A cara de medo e pânico juntas que ele lhe mostrara não lhe davam muita confiança.
- Pensei que tinhas entrado a semana passada… foi isso que o Charles me disse. – olhou-a, fazendo as contas para trás, isso queria dizer que ela estava ali desde os 17? Mas isso era sequer legal?Estás mesmo bem? Não seria melhor irmos ao hospital? – perguntou.
- Não, estou bem obrigada. – sorriu-lhe.
- E porque estás aqui? – perguntou pousando-lhe uma mão no joelho, fazendo Beatriz retrair-se, afinal ela estava num clube de strip, nunca se sabia o que esperar. – Não te preocupes não te vou fazer mal nenhum. – sorriu-lhe encorajando-a a contar-lhe os porquês de estar ali. Beatriz contou.

- Mas tens casa?! - perguntou preocupado depois de ouvir o que a levara até àquele clube.
- Sim, a minha melhor amiga, que é mais velha um ano, deu-me casa. – sorriu.
- Menos mal. – suspirou.
- Podias ajudar-me com aquilo? – perguntou timidamente apontando o varão. – Não tenho grande aptidão para. – riu-se embaraçada.
- Sim, eu ajudo mas com cuidado. – passou-lhe um braço pelos ombros e beijou-lhe a bochecha. - Primeiro convém aqueceres os músculos. – disse ajudando-a a levantar-se e dando-lhe uma explicação verbal daquilo que ela podia fazer naquela coisa metálica.
A partir daquele dia, Beatriz podia dizer que tinha ganho um grande amigo para a vida e uma grande ajuda dentro daquele clube manhoso.

[/flashback]

- Sim. – corou ligeiramente.
- Tu e o famoso, han? Quem diria… - riu-se e ela deu-lhe um leve murro nos abdominais.
- Calma lá, boneca! – agarrou-se à barriga.
- Já devias saber que tenho força, J. – sorriu-lhe dirigindo-se à mala onde o seu telemóvel tocava. – É ele! – disse a James, ele riu-se.
- Fica à vontade. – saiu dando-lhe um beijo na cabeça.

**
- Boas noites. – Beatriz atendeu.
- Hello, my darling. – Tom falara do outro lado da linha.
- Uh, esse inglês mata-me! – riu-se e Tom riu com ela.
- Tudo bem? – perguntou.
- Sim, e contigo? A viagem correu bem?
- Sim, tudo bem, a água continua perfeita, está tudo bom só me faltas cá tu! – respondeu recostando-se no jacuzzi da parte traseira do bungalow. Beatriz suspirou.
- Não era suposto ter sido eu a ligar? – desviou assunto.
- Como ainda não tinhas dito nada e o troglodita do meu irmão não se despacha, decidi ocupar o tempo. – riu-se. Tinham combinado usar o jacuzzi naquela noite e aproveitar para relaxar, mas Bill Kaulitz era incapaz de sair da casa de banho e Tom não percebia porquê.
- Fizeste bem! Vão sair?
- Não, estou no jacuzzi.
- Eia que sorte, meu! – disse fazendo-o rir. – Também quero.
- Apanhas o avião e vens ter comigo. – disse.
- Não me dês ideias. – sorriu.
- Estás em casa?
- Não, estou no clube. – disse e sentiu por momentos o ambiente tornar-se pesado, demasiado pesado. Sabia perfeitamente o medo que Tom tinha daquilo que ela podia fazer, nunca lho dissera mas bastava olhar para os olhos dele quando praticamente lhe suplicavam para deixar o clube. Inspirou fundo. – Mas já vou para casa, já dei espectáculo por hoje.
- Só espectáculo? – perguntou apenas para ter a certeza. Ninguém iria ousar tocar naquilo que lhe pertencia. Ninguém iria ousar possuir Beatriz quando o seu coração a rodeava de todas as maneiras possíveis. Em certo ponto até parecia demasiado possessivo, torná-la sua propriedade até soava mal, mas se pensasse com o coração de manteiga que ele até era, fazia sentido.
- Só. – garantiu. – Estou a pensar num dia desta semana ir falar com o Charles.
- Tens certezas disso? – perguntou. – E o que ele te pode fazer se desistires?
- Agora estás preocupado com isso? – perguntou directamente. Não fora propositado o tom que usara, mas primeiro Tom dizia-lhe que bastava fugir, bastava querer o fim daquilo para que o fim chegasse realmente, mas agora estava a pôr em evidência que não era assim tão simples.
- Depois de conhecer o Ryan, acho que mudei todas as opiniões. – respondeu sinceramente e Beatriz sentiu-se amolecer por dentro. Teria Tom gostado assim tanto de Ryan para chegar a este ponto? Ao ponto de o querer proteger dos braços daquele que, injustamente, o fizera ver a luz do sol? – A sério, Beatriz não quero que te precipites nem quero que percas o teu filho. Já vi o quanto amas aquele rapaz. – esboçou um sorriso.
- Obrigada, a sério Tom.
- Não tens que agradecer miúda. Qualquer coisa apita. – disse. – Ah! Já viste as fotos que saíram? – perguntou ao lembrar-se da revista que David lhe dera, ainda tinha que ir ler aquele artigo com olhos de ver.
- Quais fotos? – não sabia de fotos nenhumas. – Espera aí, referes-te ao flash?
- Sim.
- Credo, foi ontem e já é notícia? – perguntou incrédula.
- Exacto. – ele riu-se da reacção dela. – Mas não tens que te preocupar que não dá para ver absolutamente nada!
- Como se nós estivéssemos a fazer alguma coisa!
- Tu percebeste! – riu-se.
- Oh, mas podes sempre dizer que era tua prima! – encolheu os ombros dirigindo-se ao espelho, sentando-se.
- Claro! E depois quando decidir admitir alguma coisa, menti. Era lindo, Beatriz. – riu-se.
- Quando decidires admitir alguma coisa? – ela ficou-se naquela parte.
- Sim. – suspirou. Viu o irmão entrar no jacuzzi com cara de gozo e decidiu deixar a conversa por ali. – O Dr. Bill acabou de chegar e antes que me deixe mal disposto é melhor desligarmos. – riu-se fazendo Beatriz soltar uma gargalhada sonora que o fez alargar o sorriso e Bill atirar-lhe água.
- Acho melhor, depois falamos sobre esse admitir. – sorriu. – Beijinhos, Tom. E já agora dá beijinhos ao Bill. – riu-se.
- Serão entregues. – e desligaram.
**

- A Beatriz manda-te beijinhos, ó cabeça lambida! – gozou-o ao vê-lo com o seu famoso cabelo arrumadinho. – Precisas de pôr o cabelo assim para as férias?! Para um jacuzzi?! – perguntou, e imediatamente descobriu o porquê de ele demorar tanto tempo na casa de banho. “Já devias estar habituado, meu é teu irmão!” pensou.
- A Beatriz mandou beijinhos para mim? – disse admirado mas visivelmente feliz, nem dando importância à boca do irmão. – Que fofinha e nem me conhece!! – Tom riu-se.
- Se não conhecia por esta altura já deve ter pesquisado por ti.
- Tu percebeste a ideia. – respondeu-lhe chegando aos copos de champanhe pousados na borda do jacuzzi. – Às férias! – elevou o copo.
- Às férias. – Tom sorriu e chocou o copo contra o do irmão num olhar cúmplice e até de gozo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

[18]


- Foda-se! Estou atrasado! – Tom levantara-se demasiado rápido da cama tendo que se segurar à mesa-de-cabeceira por instantes, caso contrário a tontura teria levado a melhor. – És burro, meu! – procurou pelo quarto os boxers e vestiu-os, dirigindo-se à casa de banho. – Não sabias pôr despertador?! - passou água pela cara e voltou ao quarto procurando a sua roupa, começando a vestir-se. – Ai, ai, ai, o Bill vai matar-me! – refilava consigo mesmo enquanto olhava o relógio de 5 em 5 segundos. Eram 10:15 da manhã.
- Tom? – com os estrondos e a agitação que o rapaz fazia no quarto, Beatriz não evitara acordar. – Está tudo bem? – sentou-se na cama, com o cabelo desalinhado, agarrando o lençol tapando o peito e coçando um olho.
- Acordei-te? – perguntou. – Oh é claro que te acordei, só estava a fazer porcaria. – refilou consigo mesmo.
- Ei, calma. – chegou-se a Tom, que estava sentado na cama de costas para si, a calçar os ténis. – Que foi? Tanta pressa? – pressionou-lhe os ombros e beijou-lhe o pescoço de maneira a que relaxasse.
- Bea, estou atrasado como tudo!
- Que horas são? – perguntou.
- 10:16 – olhou o relógio novamente - e eu aqui, era suposto estar em casa às 10! O meu irmão vai matar-me!! – levantou-se bruscamente da cama. – Era pedir muito que te vestisses? – pediu. – Ainda tenho que te ir levar a casa. – disse coçando a parte de trás do pescoço.
- Não te preocupes, eu apanho um táxi, vai-te embora! – disse levantando-se da cama vestindo a lingerie que na noite anterior tinha voado do seu corpo.
- Não, eu levo-te a casa! – disse de forma altiva. – Insisto! – disse-lhe novamente quando ela tencionava refutar a sua decisão.
- Ok, então dá-me a tua camisa porque este vestido já não tem ponta por onde se lhe pegue. – disse olhando o vestido e comprovando que era impossível de se vestir. “Só tens ideias maradas, Beatriz!” pensou estupidamente.
- Toma. – Tom passou-lhe a camisa e Beatriz vestiu-a. – Não te fica assim tão mal! – riu-se.
- Que se lixe, desde que sirva. – riu com ele e olhou-se ao espelho. – Eu fico bem de todas as maneiras, já viste? – perguntou olhando Tom. Ele riu-se.
- Sem dúvida, mas sem roupa ficas muito melhor. – aproximou-se dela e beijou-a.
- Vá, estás atrasado!! – disse ao quebrar o beijo empurrando-o.
- Ai, vamos embora. Estás pronta? – olhou-a, vendo-a calçar os sapatos à pressa.
- Sim, ‘bora! – seguiu Tom rapidamente ainda tropeçando em si mesma fazendo Tom soltar uma gargalhada e abraçá-la pelos ombros depositando-lhe um beijo na têmpora.

Acelerou o máximo que conseguia, pois não ia ser bom ouvir Bill Kaulitz refilar consigo naquela manhã. Não é que ainda não estivesse habituado, mas ninguém o iria conseguir chatear depois de uma noite tão curta mas tão longa como a que ele tivera, e talvez Bill não gostasse da sua calma.
- Uma semana e eu estou de volta. – Tom sorriu-lhe acariciando-lhe a face.
- Até lá eu ligo-te, parece-te bem? – perguntou com o mesmo sorriso na cara. Tom apenas acenou afirmativamente e perfez os lábios dela com os seus. Ia ter que levar aquele sabor com ele, e o certo é que não se iria esquecer. – Olha as horas. – riu-se ao quebrar o beijo e saiu do carro vendo Tom arrancar a alta velocidade até sua casa. O que vale é que não era longe.

- Eu mato o Tom, eu mato o Tom, eu mato o Tom, eu mato o Tom. – Bill andava pela sala a roer a unha do polegar e ao mesmo tempo tentado não a roer, não podia estragar o verniz. – Eu mato o Tom, eu mato o Tom, eu mato o T… - o som da chave na porta fê-lo parar. – TOM! – berrou.
- Matas-me depois, ok? Preciso de ir trocar de roupa e trazer as malas para baixo. – pisgou-se escada acima e trocou de roupa num ápice.

- As malas… - remordeu - … AS MALAS JÁ ESTÃO NO CARRO! – berrou, furioso.
- Ok, obrigado, mano ficarei profundamente agradecido à tua pessoa para sempre, agora podemos ir embora? – perguntou fazendo um sorriso angelical, ainda ajeitando o casaco vestido à pressa. Bill revirou os olhos.
- A que raio de horas é que eu disse para estares aqui? – perguntou enquanto se dirigiam à carrinha negra e de vidros fumados que os esperava.
- Às 10. – respondeu.
- Que horas são? – perguntou.
- 10:38. – Tom respondeu olhando o relógio. – E não te queixes, só acordei à um quarto de hora.
- Não me queixo?! – perguntou indignado. – Essa matou-me. – colocou o cinto de segurança e encostou a cabeça para trás. – Se a segurança do aeroporto apitar por tua causa, eu mato-te. – avisou.
- Não eras capaz. – remordeu entre dentes escondendo um sorriso.
- Sim, Tom mas é o que está escrito no guião. – respondeu-lhe.
- No guião? – agora Tom não percebera.
- Esquece. – respondeu. – Não estou para te explicar piadas. – suspirou.

A chegada ao aeroporto não foi difícil de fazer e a passagem pela segurança também não. Tom teve sorte que o irmão não o matou.
- Têm tudo?
- David?! – perguntaram os gémeos ao mesmo tempo quando ouviram a pergunta. – Que é que estás aqui a fazer?
- Vim dar-vos leitura, parece-vos bem? – Bill e Tom trocaram um olhar confuso. – Isto. Até ficaste giro, Tom! – gozou. Os gémeos pegaram nas revistas que Jost lhes estendera.
- Oh boa, eu sabia. – Tom suspirou ao olhar as fotografias que tiveram sido tiradas na noite anterior.
- Não deste conta? – Bill perguntou-lhe rindo, afinal tinha-lhe dito que não demoraria muito até que ele fosse apanhado com a rapariga do clube.
- Claro que dei! E já sabia que isto ia acontecer, só já não me lembrava! – refilou. Bem, ele estava bonito, tinha ficado a rir-se já não se lembrava era de quê, e Beatriz tinha sido apanhada apenas de costas, ou seja a coisa não estava assim tão mal. – Mas não se vê ela. – disse.
- Quê? Era suposto? – perguntou Bill de imediato.
- Não, otário, claro que não! – disse olhando-o – É uma coisa boa. – sorriu.
- Mas vocês andam? – perguntou David com cara de parvo – Ela não é a gaja do tal clube a que vocês iam e da qual eu disse que não iria desmentir nada se fossem apanhados?
- Sim.
- Sim ao quê? – perguntou sem perceber,
- Sim às duas coisas. – respondeu rapidamente, era notório que não gostava de falar no assunto.
- Isso é sério? – perguntou David, estava a achar estranho o Tom com namorada.
- Chega-te saberes que só tenho sexo com ela?! – perguntou directamente. Agora David riu-se com vontade.
- Tu?
- Anda lá, meu não sou só um boneco sem sentimentos, ok? – Tom respondeu seriamente fazendo David parar a gargalhada e olhá-lo.
- Um dia havias de crescer, puto. – sorriu. Tom revirou os olhos e a chamada para o voo foi ouvida. – Divirtam-se!

*

Beatriz entrou em casa e encostou-se à porta, depois de a fechar. Tinha um visível sorriso nos lábios e uma felicidade extrema a correr-lhe no sangue. Aquela noite tinha sido o culminar daquilo que sentia por Tom. Naquela noite ele tinha-se entregue a ela por completo, como nunca o tivera feito. Estava completamente apaixonada por ele e tinha a sensação que ele sentia o mesmo. Dirigiu-se ao quarto do Ryan e constatou pelo bilhete pousado em cima da cama que Sofia o tinha ido levar à escola.
Optou por se deitar um bocado, afinal a noite tinha sido longa e dormir era coisa que ela praticamente não tinha feito. Nem ela nem Tom e por isso é que, certamente, ele se tinha atrasado. Despiu a camisa que trazia vestida e deitou-se por baixo dos lençóis abraçada a ela. A essência de Tom continuava presente naquela peça de roupa e isso fê-la adormecer em pensamentos pouco (ou muito) próprios. Aquela tinha sido sem dúvida a noite da sua vida, no entanto e mesmo durante o sono, existia uma coisa que continuava a preocupá-la: o Magnólia. Continuava sem conseguir encontrar uma hipótese para deixar aquele clube, continuava de mãos e pés atados sem saber como se desamarrar. Estava entre a espada e a parede, onde a espada era o clube e a parede era Tom.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

[17]

Por descargo de consciência devo dizer que este capítulo merece bolinha vermelha.


- BILL! – Tom berrou do fundo das escadas pelo irmão.
- Que é que queres óh besta? – perguntou-lhe descendo as escadas passando por Tom, dirigindo-se à sala.
- A que horas é o avião amanhã? – perguntou seguindo o irmão.
- Ao meio-dia, por isso não te estiques. – avisou voltando atrás no caminho, planeando ir à cozinha buscar pipocas e uma lata de Coca-Cola. Iria fazer uma maratona de filmes completamente sozinho até lhe dar o sono. Tom virou também a rota e seguiu-o novamente.
- Isso quer dizer que tenho que vir a casa trocar de roupa para depois irmos para o aeroporto. Isso dá quanto tempo? – pensou alto enquanto seguia o irmão à volta dos armários.
- Convém estares cá por volta das 10 ou um bocadinho antes. – disse. – Precisamos de pelo menos uma hora no aeroporto. – acrescentou – E sai-me da frente, rapaz! – riu-se ao ver que Tom o seguia para todo o lado, ocupando-lhe espaço para as manobras normais numa cozinha.
- Desculpa. – riu-se e encostou-se à ilha, no centro da cozinha.
- E vai-te embora, estou farto de te ouvir. – gozou-o. Tom não respondeu, aparentemente estava a fazer contas de cabeça. – Tom, a matemática não é o teu forte. Baza. Vai ter sexo ou qualquer outra coisa semelhanto-parecida que possas fazer com a tua pseudo-qualquer-coisa. Sai-me da frente. Desampara-me a loja. Põe-te na alheta. Raspa-te daqui. Pisga-te! Queres mais sinónimos?! – Bill olhava-o de mãos na cintura. – Não deixes a miúda à espera. Olha que parece que tens esse dom, já da outra vez a deixaste à esper… - foi interrompido.
- Eu não a deixei à espera porque ela não sabia que eu ia. Quantas vezes é preciso dizer-te isso? – refilou. – Ah e deixa os sinónimos em casa se faz favor. – os filmes que Bill começava a fazer matavam-no.
- Tom, eu estou em casa. – olhou-o sem perceber.
- Esqueçamos. – sorriu-lhe dando-lhe uma palmada amigável no peito. – Até amanhã, maninho. – pegou no telemóvel, nas chaves de casa e do carro e, por uma das palavras do irmão, pisgou-se dali.


Beatriz sentou-se com um suspiro no sofá da sala ao lado de Sofia, sonhando acordada, depois de Ryan ter praticamente desmaiado de sono na cama.
- Oh miss! – Sofia deu-lhe uma cotovelada.
- Que foi? – olhou-a.
- Olha o telemóvel! – riu apontando o aparelho que vibrava sobre o tampo da mesa de vidro.
- O Tom chegou! – levantou-se num pulo, ninguém diria que Beatriz envergava uns saltos de 12 centímetros e um vestido branco curto e justo ao corpo, tal era a facilidade com que se movimentava. – Até à próxima.
- Até amanhã! – Sofia riu-se. Era demasiado bom ver a amiga tão feliz.

Entrou no desportivo carro de Tom e deu-lhe um beijo nos lábios em modo de cumprimento.
- Apresentável como sempre. – Tom sorriu-lhe ao quebrar o beijo com ela, referindo-se ao vestido que ela envergava.
- Isso é porque ainda não me viste de pijama. – riu-se.
- Estou ansioso por isso. – riu com ela voltando a beijar-lhe os lábios arrancando em direcção ao Hotel e ao quarto que tivera reservado, de propósito, para a noite mais quente que alguma vez tiveram.
- Onde vamos mesmo? – perguntou curiosa.
- Até ao paraíso, parece-te bem? – perguntou.
- Completamente! – riu-se e deixou que as paisagens, sempre iguais, de Berlim a guiassem por pensamentos. Seria possível estar tão ansiosa por estar novamente nos braços de Tom? Tanto seria como era, Beatriz até tremia!

Chegaram ao destino: um Hotel de 5 estrelas recatado num dos cantos da magnífica cidade de Berlim.
- Wow. – sorriu ao sair do carro e ver Tom vir ao seu encontro.
- Ainda não entraste por isso guarda um bocadinho da surpresa, ok? – riu-se abraçando-a pela cintura dando-lhe passagem à sua frente, trancando o R8.
- Tu não me digas isso! – ela riu-se olhando-o e Tom sorriu-lhe.

Um flash.

“Mas quem é o doido que está a tirar fotografias a estas horas?” Tom perguntou-se, mas estupidamente, afinal era óbvio que lhe estavam a tirar fotografias a si.
- Acelera o passo, amanhã estamos em capa de tudo o que é imprensa cor-de-rosa. – disse. Beatriz apenas fez o que ele pediu não questionando nada pois também ela sentira o flash sobre si.
Tom dirigiu-se à recepção do Hotel, pedindo a chave da suite que reservara naquela tarde. Já Beatriz mantinha os olhos fixos em todos os meros detalhes daquela sala. O candeeiro de lustre sobre as suas cabeças, os sofás pérola que contrastavam com os tapetes felpudos da mesma cor, já para não mencionar os móveis cor de pinho que adornavam o espaço. Tom tinha escolhido demasiado bem.
- Impressionada o suficiente para prosseguir? – sorriu-lhe quando a viu encantada a olhar cada pormenor. Ele compreendia pois, também ele, tivera aquela reacção da primeira vez que ali entrara.
- Vamos, mas já tenho medo daquilo que vou encontrar. – riu-se e Tom acompanhou-a.
Apanhado o elevador até ao último piso do luxuoso Hotel, Tom passou o cartão electrónico na porta, anunciando que era a suite presidencial.
- Estás a gozar! – ela olhou-o. – Não te chegava apenas uma cama e uma casa de banho? – riu-se e entrou. Agora sim tudo lhe tinha caído aos pés. O quarto era todo decorado em tons creme e laranja, no centro um varão de metal estendia-se do chão ao tecto (o que lhe lembrou o Magnólia), a cama rasteira e enorme estava encostada a uma das quatro paredes e, no lado oposto, a entrada para a varanda onde se encontrava um jacuzzi. Do lado direito situava-se a casa de banho, enorme e com hidromassagem. Ela tinha mesmo aterrado no paraíso.

Tom olhava-a encantado pela surpresa que ela mantinha no olhar. Era certo que não estava propriamente habituada àquele tipo de luxúria, mas havia sempre uma primeira vez para tudo. Sorriu ao vê-la voltar da varanda e levar as mãos varão que se encontrava no meio da divisão. Ele bem podia tentar controlar os sentidos, controlar o animal que naquele momento a queria possuir mas não conseguia. Tentar esperar por ela não dava, tentar que o seu corpo se dirigisse ao dele de livre vontade começava a ser doloroso. Preparava-se para avançar sobre ela quando Beatriz impulsiona o corpo contra o varão, deixando apenas de o apreciar. Tom sentiu uma fraqueza parva apoderar-se das suas pernas e deixou-se cair sobre o puff redondo alaranjado que se encontrava atrás de si.
Beatriz, de cabeça para baixo no varão, olhou Tom e captou bem aquela expressão e sorriso. Não se lembrava daqueles traços desde a última vez que o vira sentado numa mesa do clube. Não se lembrava já o quão homem primitivo ele podia ser ao ver o seu corpo elevado num poste de metal. Sentiu as costuras do vestido romperem-se ao contorcer-se, aquilo talvez não tivesse sido boa ideia, pelo menos não vestida daquela forma. Saltou do varão colocando-se mesmo à frente de Tom e arrancou o vestido do corpo. Não falo apenas figurativamente, Beatriz arrancou mesmo o vestido do corpo acabando com as outras costuras, deixando a lingerie negra, as ligas e as meias rendadas da mesma cor à mostra. Tom deixou cair o queixo, para variar. Aquela mulher era fogo.
Levantou-se do puff e, num acto de perícia, agarrou a sua cintura com uma mão levando a outra ao seu pescoço. Arrastou os lábios dela de encontro aos seus e deixou-se guiar por aquele sabor característico a que ela sabia. Não fazia ideia do que era, se era batom ou se era simplesmente o seu sabor genuíno, mas sabia demasiado bem para se separar dele. No entanto, ela obrigou-o a tal coisa quando o empurrou do seu corpo levando as mãos aos seus ombros, fazendo com que a camisa que trouxera vestida se perdesse no quarto.
- Hás-de experimentar não usar t-shirt por baixo. – piscou-lhe o olhou assim que se viu livre da t-shirt branca que ele usava por baixo. Tom riu-se.
- Tu tens hipótese de ver o que está por baixo das t-shirts por isso não refiles. – brincou e Beatriz soltou uma gargalhada exagerada, fazendo Tom sorrir abertamente, gostava de a ver rir.
Tom puxou-a pelas nádegas para o seu colo e encostou-a contra a parede mais próxima.
- Ainda vou descobrir o que é que tu tanto tens com as paredes… - disse-lhe interrompendo cada palavra com o beijo no seu pescoço.
- Vais ter muito tempo para isso… - murmurou, pois a sua voz não dava para muito mais. O poder que ela tinha sobre o seu corpo era demasiado grande para ele conseguir, sequer, falar. A única coisa que queria daquela noite era poder unir-se a ela de forma mais real, mais leal, mais apaixonante do que alguma vez o tinha feito. Queria entregar-se a ela como nunca se entregara a ninguém.

Deslocou-se da parede à cama e, deixando que ela lhe removesse as largas calças de ganga, caiu sobre o seu corpo beijando o seu peito. Beatriz rapidamente se voltou fazendo-se assumir controlo sobre ele. Deixou-lhe um chupão no pescoço e desceu com a língua até à cintura, acariciando cada abdominal por que passava. Adorava o corpo de Tom, adorava a maneira como ele andava, a maneira segura mas desconjuntada com que ele metia um pé à frente do outro. Adorava a sua maneira de beijar, sempre protector e selvagem. Adorava o seu lado fofinho, adorava-o por inteiro. Passou a mão direita sobre o alto visível nos boxers justos de Tom e olhou-o, vendo-o revirar os olhos anunciando que, aquela zona, talvez estivesse demasiado sensível para ela brincar. Riu-se e dirigiu-se aos lábios dele, sentindo Tom desapertar o seu soutien já com alguma experiência.
Tom virou-a na cama e deu-se ao luxo de explorar o seu peito com os lábios. Aquele piercing situado no seu mamilo endoidecia-o e a perfeição das suas curvas tão bem desenhadas também. Usou as mãos para a explorar e a língua para a conseguir saborear. Lá estava o sabor que ela tinha a dar-lhe a volta, a torná-lo mais animal do que aquilo que já estava. Sim, porque quem olhasse para o seu corpo não diria que Tom estava excitado, diria que Tom já estava em êxtase.
Percorreu o seu ventre com as mãos até chegar à liga e às fitas que a prendiam. Sorriu-lhe perversamente e Beatriz riu-se, ele tinha ideias para tudo.
Beijou a sua virilha e foi descendo à medida que a liga, que acompanhava a meia negra rendada, se deslocava pela sua coxa e mais tarde perna. Repetiu o movimento na perna direita e sorriu-lhe dando o trabalho por completo.
Beatriz enlaçou uma perna à volta da cintura de Tom e puxou-o para si, fazendo-o cair sobre o seu corpo já ofegante. Beijou-lhe os lábios da forma mais ousada que conseguia e virou-o na cama, levantando-se. Tom ficou parvo a vê-la desaparecer da sua vista com um sorriso que o deixava pior (no bom sentido, claro!) do que já estava. Levantou-se, ainda que contrariado mas curioso, e foi ver onde ela se deslocava.
- Ansioso por matar saudades de como nos conhecemos? – perguntou, novamente pendurando-se no varão.
- Estás com tão pouca roupa no corpo… - rodou a cabeça para a esquerda de modo a acompanhar os seus movimentos. - … não seria melhor… - aproximou-se dela, parecia completamente enfeitiçado.
- O que seria melhor era juntares-te a mim. – disse-lhe e assim que Tom se colou ao varão, Beatriz rodeou a sua cintura com as coxas, fazendo Tom levar as mãos ao seu rabo, amparando-a.
- … isto vai ficar no meio? – riu-se, apontando o varão de metal. Ela puxou o corpo para cima fazendo Tom largá-la e sentir as pernas dela aproximarem-se da sua cara para o abraçarem pelo pescoço.
- Só se tu quiseres. – se Tom já estava doido até ali, agora que tinha as coxas dela à volta da sua cara e o ponto alto da noite mesmo em frente aos seus olhos, não estava melhor certamente. Beijou-a sobre o ponto mais sensível que sabia existir no corpo de qualquer mulher e sentiu-a contorcer-se. Beatriz estava tão excitada como ele. Num movimento brusco e, de todo, amador agarrou Beatriz pelas pernas e pousou-a no chão, agora, sem ter um varão a atrapalhar as coisas. Levou as mãos ao seu peito e não se conteve em massajá-lo com tudo aquilo que tinha para dar. Brincou com o piercing e sentiu-a rir, afinal já sabia que naquele sítio ela tinha cócegas. Sorriu e beijou os seus lábios lenta e apaixonadamente, queria realmente senti-la por inteiro.
Beatriz tomou a iniciativa de os empurrar de novo até à cama, caindo por cima de Tom. Roçou o seu peito no dele e pôde sentir a rigidez dos seus mamilos em contacto com os de Tom, o grau de excitação naquela cama era elevado. Gemeu com o contacto físico e, fechando os olhos para apreciar o momento, desceu as mãos até ao interior dos boxers de Tom, removendo-lhos num ápice. Beijou as virilhas, os vincos, o umbigo, o peito, o pescoço e, quando chegou aos lábios, procurou sobre a cama a caixa de preservativos que lá tinha pousado.
Tom deu-lhe tempo de ela retirar um preservativo da caixa mas não lhe deu tempo de lho colocar. Virou-a na cama apartando do seu corpo a única peça de roupa que ela ainda vestia. Beijou-lhe o pescoço dando tempo para colocar o preservativo sobre a sua, acentuada, excitação.

Inspirou fundo e sorriu na direcção dela antes de corromper a barreira que os uniria de maneira mais sentimental que o normal. Penetrou-a com uma calma não característica dos seus movimentos e escondeu a cara na curva do pescoço dela, aumentando o ritmo aos poucos. Sentia Beatriz cravar as unhas nas suas costas e ouvia-a gemer baixinho ao seu ouvido. Isso fazia-o sorrir. Ter descoberto a paixão fazia-o sorrir. Tê-la descoberto a ela não o fazia apenas sorrir, fazia-o sentir e isso era sem dúvida a maior coisa que lhe tinha acontecido. Sentiu Beatriz chegar ao seu extremo pela primeira vez na noite, diminuiu o ritmo e deixou-a recuperar. Podia ir para obter o seu orgasmo, mas fazê-la vir-se era simplesmente… bonito. A maneira como ela contorcia os lábios e fechava os olhos sentindo-o apenas a ele, a maneira como trincava sensualmente o lábio inferior e a maneira como gemia o seu nome era, realmente bonito, pelo menos aos seus olhos.

Sentiu o seu próprio corpo contorcer para distender no segundo seguinte e uma onda de prazer inundar o seu corpo da maneira mais quente que alguma vez sentira. Beatriz também o sentira e Tom pôde ver isso pelo seu sorriso e pela forma como o seu corpo ficara hirto entre as suas mãos.
Rebolou para o seu lado da cama e colocou o braço sobre os olhos. Estava satisfeito, totalmente.
- Quando é que vais de férias? – Beatriz perguntou depois de também ela recuperar daquilo que ambos viveram. Não havia mais ninguém no mundo que a levasse onde Tom levava.
- Amanhã. Tenho avião ao meio-dia. – disse sentindo-a pousar a cabeça no seu peito.
- E quando voltas?
- Dentro de uma semana. – Beatriz beijou-lhe o ombro e sorriu-lhe. – Promete-me que não vais ao clube. – pediu.
- Eu tenho que ir ao clube. – disse-lhe.
- Mas…
- Mas vou-me manter pela dança. – interrompeu seriamente. Tom suspirou e beijou-lhe o topo da cabeça.
- Ainda bem. – deixou que o corpo de Beatriz subisse para cima do seu e não o deixasse descansar um segundo que fosse. Se dependesse dela, aquela caixa de preservativos iria acabar no lixo, no final daquela noite.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

[16]


O que é que aquele “Mãe?” quereria dizer?

- Ry, podes ir para o quarto só um bocadinho? – perguntou dirigindo-se ao filho, deixando Tom ainda mais boquiaberto.
- O que é que tu estavas a fazer, mamã? – perguntou olhando Tom enquanto se agarrava às pernas de Beatriz.
- Eu depois explico-te, amor sim? – pousou-lhe a mão sobre os cabelos lisos e curtos. Ryan olhou Tom novamente e um sorriso abriu-se nos lábios do rapaz de 3 anos.
- Quem é? – perguntou olhando agora Beatriz. Ela virou-se e olhou Tom. Devia apresentá-los? Tom não fazia a mínima ideia do que se passava ali e Beatriz podia ver isso pela sua expressão confusa, mas o sorriso e o brilho no olhar de Ryan estavam a confundi-la.
- É o Tom. – disse por fim. Ryan aproximou-se lentamente de Tom, era tímido podia ver-se isso, mas parecia bastante à vontade com Tom, por isso Beatriz surpreendeu-se. Ryan odiava conhecer pessoas, cada vez que convidavam amigos para se juntarem ali em casa, Ryan tinha sempre medo de se aproximar de alguém e com Tom isso não aconteceu.
- Olá, Tom. Gostas do meu barco de pecinhas? – perguntou referindo-se à construção em lego que trazia consigo. Tom não se moveu nem emitiu palavra, não sabia simplesmente o que fazer, aquela criança era a versão pequenina de Beatriz, e isso deixava-o inseguro e sem saber o que fazer. Ele acabara de se declarar, de saber que era correspondido, e no final de contas ela tinha um filho sabe-se lá de quem! Mas em que mundo é que ele vivia?
- Rya… - Beatriz foi interrompida por Tom.
- É muito giro, Ryan tens jeito. – sorriu-lhe. Podia até não ter muito jeito com crianças mas sempre lhes achou piada, costumava ser visitado pelos primos e até brincar com eles, talvez se tratasse Ryan como um primo seu aquela parte do filme nem ficaria mal.
- Obrigada. – o pequeno sorriu-lhe e correu até Beatriz novamente, abraçando as suas pernas.
- Voltas ao quarto? – ela perguntou-lhe e Ryan acenou afirmativamente deixando o compartimento.
Beatriz suspirou e sentou-se no sofá com a cara enterrada nas mãos. Parecia que o mundo lhe tinha caído em cima, que qualquer coisa que tivera feito noutra vida a estava a amaldiçoar agora. Não queria elevar os olhos e observar Tom, não queria descobrir qual era a expressão que ele carregava no rosto.
Tom olhou-a, estava desesperada e, se não se enganava, estava absolutamente perdida nos acontecimentos passados.
- Desculpa. – sussurrou.
- Quem é o Ryan, Bea? – perguntou calmamente, iria controlar as incertezas, iria controlar todas as perguntas sem jeito nenhum que o tinham atravessado, iria, apenas, deixá-la contar-lhe que raio de episódio era aquele.
- O Ryan é mesmo meu filho… quando te conheci disse-te que era de um amigo, certo? – Tom acenou afirmativamente e ela inspirou fundo. – Se quiseres desistir aqui tudo bem, eu compreendo… - começou.
- Não! – Tom interrompeu-a. – Eu não quero desistir de ti, eu não aguentava se desistisse de ti. – olhou-a seriamente nos olhos agarrando-lhe a face entre as mãos. – Eu quero ouvir o que tens para me contar. – sorriu-lhe e beijou-lhe levemente os lábios.
- Tu és demais, sabias? – encostou a testa à dele.
- Claro que sabia. – sorriu-lhe fazendo-a rir-se. – Como é que o Ryan apareceu na tua vida? Porque é que trabalhas no Magnólia? – perguntou puxando-a para o seu peito, abraçando-a.
- Tinha 17 anos quando cheguei ao Magnólia à procura de trabalho… - iria contar-lhe toda a sua história, com todos os pormenores, com todas as palavras que ainda lhe queimavam o coração cada vez que as proferia ou que se lembrava, simplesmente, delas. Contou a Tom como ficara órfã, como encontrou Sofia, como ela lhe cedeu a casa e como estaria grata àquela rapariga para toda a vida; contou-lhe da panca que Charles tinha por ela e da violação da qual Ryan tinha sido fruto. Falou-lhe das chantagens que fazia com ele, disse-lhe porquês das mesmas e respondeu a tudo aquilo que ele perguntava quando não percebia ou quando a curiosidade falava mais alto.
- Tu não mereces… - balbuciou no final da história. Estava redondamente enganado quando julgou que aquilo era um argumento de filme, pois não era. Aquilo era a vida de alguém contada na primeira pessoa, por alguém que a vivera demasiado intensamente.
Abraçou-a mais quando sentiu o seu pescoço molhado das lágrimas que, ocasionalmente, Beatriz largava.
- Mas eu estou aqui agora e não vou deixar que ninguém te toque… - movimentou-se de maneira a conseguir fitar os olhos negros que, cada vez que se dirigiam a si, o engoliam para um mundo com mais cores que o arco-íris. - … vamos tirar-te daquele clube. – prometeu.
- Como? – os seus olhos preocupados e cravejados de lágrimas cristalinas feriam Tom.
- Não sei, mas vamos conseguir.
- Eles não vão deixar… o negócio acaba se eu sair dali. – limpou as lágrimas afastando o corpo de Tom, olhando-o.
- Não quero saber. – respondeu confiante. – Eles têm tanta gente a trabalhar lá, por isso bem podem arranjar outra!
- Tom… - respirou fundo - … eu sou aquilo que mantém o clube aberto, se eu saio eles fecham e se isso acontece de certeza que o Charles não me vai perdoar… e à conta disso não sei se poderá acontecer alguma ao Ryan. – explicou-lhe.
- Mas ele disse-te que… - foi interrompido.
- Isso não quer dizer nada. – cortou-o referindo-se à chantagem.
- Tu podes dizer a toda a gente o que ele te fez! – levantou-se. Não percebia qual era o foco de tudo aquilo. Se Beatriz deixasse o clube ele poderia querer o Ryan como pai legítimo mas isso implicaria dizer a toda a gente que ele era, de facto, o pai. E não só, Beatriz poderia falar da violação! A sério, Tom não percebia porque raio ela não aceitava.
- Achas que acreditavam? Era a minha palavra contra a dele! – olhou-o inquieto a passear pela sala com uma mão na cintura e outra na testa, parecia tentar arranjar ideias.
- Porquê?!
- Tom… - levantou-se e dirigiu-se a ele, abraçando-o pela cintura - … eu não tenho saída, por isso te digo que se quiseres desist…
- Não! Outra vez isso não, Beatriz! – falou sério e de forma arrepiante. – Nem que tenha que te raptar, tu vais sair desse clube! – sorriu-lhe. Beatriz retribuiu beijando.
- Raptar?
- Olha que não estou a brincar. – abanou a cabeça negativamente. – Se for preciso faço-o. – beijou-a novamente, estava a saber-lhe bem tê-la nos seus braços.
- Isso até soa bem. - Beatriz enfiou as mãos dentro da t-shirt de Tom, pelas costas, arranhando-o. Sentiu-o suspirar contra os seus lábios e levar as mãos ao seu rabo por baixo do curto vestido.
- Espera até logo à noite. – riu-se ao quebrar o beijo. – Não vamos fazer nada de promíscuo aqui com o iminente perigo de entrar alguém pela sala a chamar-te de mãe, han? – Beatriz sorriu-lhe. Ele tinha atracado a ideia de Ryan ser seu filho demasiado bem.
- Estás a marcar um encontro? – perguntou.
- Estou. – sorriu-lhe – Um quarto de Hotel e nós, parece-te bem?
- Parece-me perfeito! – beijou-o, sentando-se com ele no sofá olhando a televisão que passava qualquer coisa sem interesse algum, mas sejamos racionais, eles não se importavam nada com isso. Os lábios e o corpo do outro tinham muito mais interesse.

(…)

Ainda estava atordoado com as notícias que recebera. Não esperava chegar a casa de Beatriz e deparar-se com uma história de vida daquelas. Todo o percurso que ela já tivera percorrido até chegar aos seus braços naquela louca noite no Magnólia, nunca a denunciavam numa história com tantas pontas soltas como esta tinha. Não sabia o que pensar, o que fazer, o que esperar… começava a ferver por dentro ao pensar no tal Charles e naquilo que ele a fizera passar. Violá-la e rejeitar o filho? Obrigá-la a despir-se e a vender o corpo todas as noites para dezenas de homens esfomeados? Fazê-la sentir-se apenas mais um bocado de carne? Algo sem sentimentos?
Tom ponderou. Também ele já o tivera feito e isso é certo, mas era incapaz de ter a atitude que aquele cretino tinha tido. E depois de a conhecer melhor e de saber a excelente pessoa que ela era, muito menos.

Entrou em casa e descansou o corpo sobre o sofá.
- ÉS TU TOM? – Bill gritou do andar de cima.
- Que eu saiba sou o único a ter a chave para além de ti. – respondeu-lhe assim que o irmão chegou ao pé dele.
- Sei lá, podia ser um assaltante ou uma fã, nunca devemos confiar! – disse-lhe muito responsável e preocupado.
- Está bem, está. – Tom sorriu-lhe em troça.
- Então? – perguntou sentando-se ao lado dele que nem velha cusca. – Conta!
- Não há nada para contar! – exclamou.
- Mau, não me digas que foi só sexo? – riu-se.
- Não houve nada disso.
- Ai tu estás doente e a gozar comigo certamente! – disse-lhe descaindo o queixo em total espanto.
- Não, mas tenho uma história de filme para te contar. – disse-lhe encostando a cabeça para trás.
- Que se passou? – virou-se de lado e mirou o irmão.
- A Beatriz tem um filho do director do Magnólia e trabalha lá por obrigação. – começou, fazendo Bill engasgar-se e tentar argumentar mas Tom travou-o. – Os pais e a irmã de três anos morreram num acidente de viação quando os pais decidiram ir dar uma lição ao namorado dela que lhe batia. Se não fosse a Sofia a dar-lhe casa assim que ela começou a trabalhar no clube ela certamente teria que lá dormir e a sua vida nunca se tinha composto.
- Wow. – Bill estava chocado. – Ela já passou por isso tudo?
- Sim.
- Ela vive com a tal Sofia e o puto?
- Sim, ah e o Ryan é fruto de uma violação por parte do outro cretino, não foi de livre vontade. – cerrou os punhos. – E diz que aquela criança nunca na vida será filha dele. – Bill descaiu novamente o queixo.
- Meu-Deus. – soletrou. – Isso é de loucos.
- Completamente.
- Mas como é que ficaram as coisas entre vocês? – perguntou interessado no futuro do irmão.
- Estamos juntos. – sorriu, um sorriso estúpido próprio do sentimento e altamente feliz.
- Juntos? – perguntou. – Namoram ou não? Juntos para mim não quer dizer nada! – riu-se.
- Estamos juntos ponto. – disse travando ali a conversa, a pergunta tinha sido um “Ficas comigo?” e a resposta um “Fico” por isso era isso que estavam: juntos.

- Parece-me justo. – disse Bill.
- Sim. Bem, eu combinei com ela uma noite em grande por isso, maninho, se me dás licença tenho mais que fazer. – disse levantando-se do sofá encaminhando-se ao quarto.
- Ui! E vou ter que vos ouvir aos berros? – gozou.
- Não, parvo. Vamos para um hotel, assim também não incomodamos a Sofia.
- E o puto?
- Combinámos para depois de ele adormecer. – piscou-lhe o olho.
- Estou mesmo a ver-te papá, Tom, que fofinho! – riu-se.
- Cala-te pá! – virou costas e subiu as escadas.

*

- Tu conta-me tudo! – Sofia tinha-se levantado pouco tempo depois de ouvir a porta da rua bater, anunciando que Tom já tivera saído, como tal foi-se sentar ao lado da amiga na sala à espera que ela lhe contasse tudo.
- Querias! – riu-se.
- Anda lá, como é já andas com ele ou não? – perguntou curiosa. A resposta tinha sido idêntica à que Tom tivera dado a Bill, até porque eles não combinaram nada mais. - E o Ryan? Como é que o Tom reagiu?
- Bem. Pelo brilho no olhar do Ry, adorou-o. Foi logo ter com ele e tudo! – sorriu.
- Isso quer dizer que eles se deram bem? – perguntou entusiasmada sabia como Ryan era com desconhecidos.
- Acho que sim. – encolheu os ombros.
- Vão sair?
- Vamos.
- Ainda bem, eu fico com o Ryan.
- Não é preciso! – sorriu.
- Quê não me digas que o levas?! – riu-se.
- Não é isso, totó. O Tom deu a ideia de sairmos depois de ele adormecer!
- Que querido! – disse numa voz fofinha.
- É. – deitou a cabeça para trás.
- Também quero um gajo assim. – imitou a rapariga.
- Tens sempre tantos… um por semana. – disse-lhe.
- Sim, mas isso é só para saciar as minhas necessidades biológicas. – riu-se. – Quero um homem a sério, pá! – olhou-a. Beatriz sorriu-lhe… um homem a sério. Bem, ao que lhe parecia o seu já tinha chegado, parecia era que não tinha sido na altura certa. – Um gajo fofinho e carinhoso…
- Ele há-de vir. – sorriu-lhe dando-lhe um encontrão amigável.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[15]


- Não te esqueças de pôr um perfume decente e vê lá se a camisa não está amarrotada! Tom, tu não me apareças em frente à miúda todo desconcertado da vida! – Bill gozava com ele encostado à ombreira da porta do quarto do irmão, estando esta fechada. – E põe uma fita para a tua testa não parecer um ecrã plasma de 107 cm e 40 polegadas! – riu-se com a própria piada.
Tom, dentro do quarto, bufava cada vez que Bill abria a boca. Era mesmo suposto ele gozar consigo? Bem, sendo seu irmão se calhar até era.
Olhou-se uma última vez ao espelho. Ajeitou a gola da camisa preta e branca aos quadrados e posicionou a t-shirt branca da maneira que melhor lhe convinha. Olhou os ténis e encaixou neles as calças de ganga clara rasgadas à sua própria maneira. Mirou o relógio e o elástico que usava meramente para dar estilo e achou que estava perfeito. Sorriu à sua figura e piscou-lhe o olho, Beatriz não iria ficar indiferente a si naquele dia ou ele não se chamava Tom Kaulitz!

- Tom, anda lá não a faças esperar!
- Ela não sabe que eu vou! – respondeu abrindo a porta do quarto dando de caras com o irmão que se assustou com a sua figura.
- Caraças que me assustaste! – refilou. – Não me voltes a fazer isso que ele não aguenta! – disse pousando a mão sobre o coração. Tom riu-se.
- Ok, vou tentar mas não prometo nada. – disse com um sorriso fruto da gargalhada – E eu não a faço esperar porque ela não faz ideia que eu vou! – respondeu à exclamação anterior.
- Oh ‘tá bem. – encolheu os ombros.
- Estou bem? – perguntou.
- Ontem refilavas que eu me estava a atirar a ti, hoje perguntas-me se estás bem? Tom, terás bebido algum elixir durante a noite e eu não dei conta de nada? – perguntou-se em voz alta.
- Provavelmente! – respondeu levantando a sobrancelha esquerda não sabendo o que dizer à estupidez profunda e já algo grave do irmão. Bill queixava-se dos seus discursos mas ao que parecia andava a aprender consigo.
- Vai-te lá embora! – riu – E sim, estás bem. – sorriu-lhe. – Boa sorte, óh coisa!
- Eu faço a minha sorte, Bill já devias saber!
- Por saber tão bem é que ta desejo! – gozou-o.
- Estás mesmo parvo hoje. – refilou revirando os olhos.
- Pensei que estava sempre… - deixou em aberto.
- Ok, já percebi, posso-me ir embora agora? – perguntou.
- Força, a Beatriz é toda tua! – disse.
- Podes apostar que sim!

(…)

- SOFIA?! – Beatriz berrou da cozinha e a rapariga em questão chegou-se a ela.
- Que foi? – perguntou coçando o olho esquerdo visto ainda andar em pijama e ter-se levantado à uns meros 5 minutos.
- Queres almoçar? – perguntou-lhe virando-se para ela.
- Achas? Acabei de me levantar. – virou-lhe costas dirigindo-se à sala, deitando-se a todo o comprimento no sofá.
- Vê lá se isso era impedimento. – riu-se sentando-se no outro sofá esticando as pernas nuas sobre a mesa de vidro. – Não te dava nenhuma coisinha má. – disse. – Ah por falar em coisinhas más, como é que ficou a história do arroto? – perguntou. Sofia sentou-se, olhando-a.
- Fora a minha vergonha, tudo bem, eles não levam a mal. – encolheu os ombros enquanto Beatriz ria e a campainha soava. – Estás à espera de alguém?
- Nop. – respondeu dirigindo-se à porta ainda com a gargalhada nos lábios.

- Olá. – Tom tinha um sorriso encantador nos lábios e a mão na ombreira fazendo o corpo descair ligeiramente, quando ela lhe abriu a porta.
Beatriz sentiu o seu corpo vibrar e o seu coração parar para no segundo seguinte acelerar a uma velocidade estonteante deixando-a, literalmente, sem chão.
- Tom… - fora a única coisa que conseguira pronunciar em conjunto com um sorriso meio baralhado.
- Bea… - Tom imitou-a e aproximou-se do seu corpo enlaçando-a pela cintura depositando-lhe sobre os lábios todas as saudades que tinha deles.
- Entra. – ela disse ao quebrar o beijo dando-lhe passagem até à sala, onde Sofia já não se encontrava. Não lhe ia apetecer cruzar-se com um famoso e pseudo-qualquer-coisa da sua melhor amiga, em pijama e completamente descabelada, portanto decidiu voltar a deitar-se para só acordar às tantas da noite. – Senta-te. – sorriu. – Que te trás por cá? Aquela chamada às tantas da manhã deixou-me curiosa. – podia tentar soar muito natural mas o nervosismo que lhe corria pelos músculos não a deixava sê-lo.
- Desculpa lá isso… - disse embaraçado - … mas eu precisava mesmo de marcar este encontro contigo. – olhou-a nos olhos e Beatriz voltou a sentir os batimentos cardíacos demasiado apressados para apenas um contacto visual.
- Então conta-me. – sorriu-lhe e cruzou as pernas à chinês sobre o sofá virando-se para ele.
Tom não resistiu a olhá-la de alto a baixo e a contornar o seu corpo mais uma vez. O pequeno vestido branco e floreado que ela envergava deixava-o a desejá-la mais que o normal. Os contornos dos seus lábios num formato de sorriso perfeito pareciam puxá-lo como as cargas contrárias se atraiem, tão fácil e rapidamente. Estava hipnotizado e totalmente rendido aos pés dela, agora sim podia confirmar tal facto. Levantou-se tentado acalmar os calores que entretanto lhe subiram pela espinha.
- Estás nervoso. – ela constatou com um sorriso carinhoso olhando os olhos dele.
- Nota-se assim tanto? – retribuiu o sorriso e esfregou as mãos uma na outra, sentando-se sobre o tampo da mesa em frente a ela.
- Um bocadinho, que é que se passa? Começas a deixar-me preocupada.
- Não sei se tens razões para isso… - inspirou e ganhou coragem - … eu vou ser directo, odeio sentimentalismos…
- Sentimentalismos? – ela interrompeu não percebendo de todo o que ela queria dizer com aquilo.
- Eu apaixonei-me por ti. – despejou olhando-a fundo nos olhos e vendo formar-se neles uma expressão que Tom nunca tinha visto em ninguém. Um misto de felicidade, choque, surpresa, preocupação e nostalgia tinham-na inundado e Tom não fazia a mais pequena ideia do que aquilo queria dizer.
- Apaixonaste-te por mim? – um sorriso fraco mas ainda assim bastante emocionado apareceu nos lábios de Beatriz descodificando o seu estado de espírito. – Mesmo?
- Mesmo… - sorriu-lhe carinhosamente, mas no segundo seguinte o coração de Tom sobressaltou-se ao imaginar que talvez Bill tivesse razão e ele levasse uma tampa naquele preciso instante. Precisava de uma resposta positiva dela, uma resposta que o correspondesse.
- Incrível como alguém se pode apaixonar por uma pessoa como eu… - levantou-se e cirandou pela sala. Tom seguia-a com o olhar, algo apavorado. - … logo tu, tão bonito, tão divertido, tão simpático, tão… tão perfeito. – parou e olhou-o. Nos olhos de Tom uma chama de esperança redobrou a força com que flamejava e isso notou-se no sorriso aberto que ele revelou.
Beatriz sentou-se numa das pernas de Tom e preencheu os lábios dele com os seus, depositando neles todo o sentimento que se tivera vindo a formar em si por ele. Toda a energia positiva que Tom lhe transmitia, toda a vivacidade e toda a esperança de uma vida melhor que ele, sem saber, lhe depositava sobre os ombros, revelava-se naquele beijo. Rodeou o seu pescoço com os braços e sentiu as mãos de Tom explorarem a sua cintura. Quebraram o beijo e uniram as testas com um sorriso visivelmente feliz nos lábios.
- Ficas comigo? – Tom sussurrou. Aquele beijo, aquele perfeito que ela produzira em palavras, tinham-lhe dado todas as certezas de que era correspondido àquilo que sentia em si, àquilo que com a ajuda dela iria descobrir de livre vontade.
- Fico. – sorriu-lhe e beijou-o.

- Mãe? – a voz de Ryan apareceu por entre o beijo. Beatriz estremeceu. E agora? Tom olhava-a sem perceber nada da situação, ainda atordoado com o sabor dos lábios dela nos seus. Manteve-se agarrado à sua cintura enquanto Beatriz olhava o pequeno rapaz de cabelos pretos e olhos negros. Era excessivamente parecido com ela, Tom não podia deixar de reparar que o sorriso retraído que o pequeno transportava nos lábios e que os olhos negros profundos eram sem dúvida os mesmos de Beatriz. Estava baralhado e completamente parvo. O que é que aquele “Mãe?” quereria dizer?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

[14]

Desculpem a ausência, mas como tal eu poderei postar mais em breve, para compensar (:


Passarinhava entre a sala e a cozinha, ora para lá ora para cá. Não conseguia estar quieto, estava nervoso e isso era notório, bastante até.
- Vais parar? – perguntou Bill arrastando uma das malas, passando por ele. Tinham chegado a casa à não mais de 45 minutos e Tom já tinha arrumado tudo, logo tinha a cabeça livre para se ocupar com o nervosismo.
- Não. – olhou-o. – Vou ajudar-te com isso. – disse. – Ao menos estou ocupado.
- Espera aí! – Bill falou e Tom virou-se – Esta era a última. – riu-se.
- Oh, man. – entrou definitivamente na sala e sentou-se no sofá em estado, figurativamente, apavorado. – Que horas são? – perguntou.
- Certamente não são horas para ires ter com a Beatriz. – sorriu-lhe sentando-se ao seu lado. – São 3 da manhã.
- Odeio fusos horários e os aviões com horários marados! – queixou-se. – Isso são horas de se chegar a casa? – Bill riu-se – Qual é a graça?
- Estás TÃO nervoso! – Bill estava divertido com aquela nova faceta do irmão.
- Estou a enlouquecer, tipo totalmente! – levantou-se e foi buscar uma Coca-Cola. – Lembra-me de não me voltar a apaixonar tão cedo! – disse da cozinha. Bill levantou-se a correr que nem louco e foi ter com o irmão, dando com ele encostado à bancada.
- O QUE É QUE TU DISSESTE!? – Tom olhou-o com cara de parvo, tipo “Han?!!”.Repete. – pediu.
- Lembra-me de não me voltar a apaixonar tão cedo. – disse sem perceber bem porquê e completamente assustado pela cara de lunático que o irmão fazia.
- Tu acabaste de admitir que estás apaixonado. – Ok, era verdade. Tom Kaulitz já se tivera mentalizado de tal acontecimento e, ao que parecia, os seus sentimentos estavam de acordo com aquilo que estava escrito naquela página da Web, ou lá o que era.

[Flashback]

Estava sentado no aeroporto rodeado do pessoal da banda que estavam completamente ferrados no sono. Tom, para variar, não tinha sono absolutamente nenhum. Estava bem e era capaz de dar ali um concerto de 2 horas sem problemas nenhuns estava, por assim dizer, em forma.
Decidiu ligar o portátil e ver se podia fazer alguma coisa pela sua mente e, talvez, pelo seu coração. Seria demasiado estúpido procurar uma definição de estar apaixonado na internet? Se calhar até era. Então logo para ele que tinha a enciclopédia do amor como sua alma gémea: Bill. No entanto e ainda assim, decidiu-se a matar a curiosidade e já agora o tempo que parecia não passar por nada daquele mundo.

Google: “O que é estar apaixonado?” escreveu que nem um puto. Clicou em procurar e esperou que páginas fossem encontradas. Nenhuma lhe chamava a atenção. “Nada, nada e nada.” Passou os olhos e leu umas coisas por alto numa das páginas que decidiu abrir.
«É como se estivéssemos nas nuvens a toda a hora a pensar naquela pessoa especial.» Tom elevou a sobrancelha com cara de parvo, tinha pensado numa coisa mais explícita mas até conferia.
«Estar apaixonado é sentir-se vivo.» Ok, aquilo estava a ficar extremamente estranho. Teria sido boa ideia? Decidiu mudar a expressão. Experimentou “paixão”.
«A paixão é um sentimento de desejar, querer a todo o custo o amor de outro ser ou objecto. Necessidade de ver e tocar a pessoa (ou objecto) pelo qual se apaixonou ou, até mesmo a necessidade de saber se essa pessoa também se apaixonou por si.» Encontra-se com cada coisa na internet! Prosseguiu. «Deste modo, pode ser entendido como um vício que debilita a mente do indivíduo pois este foca somente a pessoa amada (ou objecto artístico) nos seus pensamentos sendo todos os outros momentâneos e irrelevantes.» Fantástico, devia consultar a internet mais vezes, pensou ironicamente. Olhou a página novamente e leu por alto algo sobre as interpretações de paixão pela literatura e as suas bases biológicas. “Não, não me parece que volte à escola.” Encolheu os ombros e encostou a cabeça para trás, batendo na parede. Tinha ficado a pensar naquilo, bem era um facto que a maior parte da paixão encaixava em si. Mas não seria estúpido descobrir isso pela internet? “Que se lixe, eu já o sabia.” Fechou o portátil e deixou-se também ele levar pelo sono.

[/flashback]

- Como se tu ainda não soubesses! – retribuiu.
- Sim, mas ouvi-lo da tua boca é diferente! – respondeu com um sorriso emocionado. Tom riu-se.
- Estás-te a atirar a mim, maninho?
- É, não tenho ninguém mais giro a quem o fazer. – respondeu secamente. Desejava por tudo ter alguém a quem pudesse tratar por amor, alguém que estivesse presente quando voltasse a casa ou simplesmente alguém que o abraçasse e beijasse e lhe dissesse que o concerto que acabara de dar tinha sido o melhor! Alguém que o compreendesse mesmo sendo do sexo oposto, queria a sua alma gémea e, sonhar com isso já era perfeitamente normal no cérebro do Kaulitz.
- Vais encontrar, sou capaz de apostar contigo! – disse-lhe Tom confiante. Podia ver claramente no olhar do irmão que aquela solidão passada nos quartos de Hotel precisava urgentemente de ser abatida, e a tiro!
- Apostas comigo em como eu arranjo a minha alma gémea sem dificuldade alguma? – perguntou olhando para ele, talvez com cara de parvo ou algo semelhante. Às vezes não sabia se devia ir na onda do irmão, ele tanto estava super optimista como super pessimista! Era incrível a maneira como ele conseguia mudar a sua posição sem mudar a sua personalidade, não podia negar que admirava Tom de certa maneira.
- Aposto! – disse confiante.
- Quanto? – esticou a mão – E até quando?
- Sei lá, 400 €! – respondeu apertando a mão do irmão selando o compromisso. – Quando? Bem, eu não sou bruxo, - riu-se – mas talvez até antes da Tour acabar!
- Acho que podes começar a pôr de lado os 400 €. – Bill suspirou.
- Não sejas pessimista, isso não te vai levar a lado nenhum.
- É, só o teu pessimismo é que leva! – gozou-o.
- Eu não sou pessimista! – disse – Sou realista! – emendou.
- Ah sim claro, então não! – ironizou e virou costas sentando-se na sala. – Ah! – exclamou quando sentiu o irmão sentar-se ao lado dele. – Vê se falas com a Beatriz até depois de amanhã, porque a seguir as Maldivas esperam-nos.
- Sim, eu sei não te preocupes com isso. – sorriu – Eu vou ter com ela amanhã.
- E vais dizer-lhe que vais?
- Não, vou fazer surpresa.
- Uh, estamos a ficar românticos! – gozou-o.
- Não é romantismo nem nada que se pareça, tá? É uma espécie de tempero para a noite que me espera… - sorriu com o pensamento - … e pode ser que ela fique tão entusiasmada que nem dê pela minha pseudo-declaração. – bufou levando a mão à testa, nem ele acreditava no que sentia.
- Daqui a nada estás a dizer-me que treinaste ao espelho! – riu-se. Tom não respondeu, sim já o tinha feito e sinceramente não tinha gostado lá muito da ideia, parecia-lhe… antiquado, estúpido, de putos e algo piroso. – Já vi que sim! – riu ainda mais ao se aperceber da cara de caso que o irmão fazia. – Mas… - ganhou um tom sério - … já sabes o que é que vais fazer se ela não sentir o mesmo? – Tom nem tinha posto aquela hipótese. Cada vez que estavam juntos a química que envolvia o ar nunca diria que Beatriz não sentia o mesmo. As conversas de telefone, o ela querer também falar consigo. O facto de ela se ter revelado a si como Beatriz e não ter-se mantido na Hannah também era uma pista a favor da sua teoria, mas e se realmente Beatriz não sentisse o mesmo?
- Nunca tinha pensado nisso. – olhou o irmão com um ar meio preocupado.
- Convinha, Tom. Convém sempre ires preparado para levar uma tampa. – avisou.
- Eu não estou habituado a levar tampas! – respondeu de imediato. – E sim, Bill ela sente o mesmo, eu acredito nisso! – apostou confiante.
- Espero que tenhas razão, mano não era bonito teres problemas na primeira paixão. – sorriu-lhe em tom de troça.
- Faltava-me mais essa agora! – levou as mãos à cara e guinchou; um guincho digamos típico de Tom Kaulitz.
- No amor devemos estar preparados para tudo! – pousou-lhe a mão no ombro. Tom emitiu um som qualquer pouco humano e levantou-se anunciando que ia dormir sobre o assunto.


Beatriz aterrou no sofá depois de aconchegar Ryan na cama como todas as noites fazia depois de chegar do trabalho. Encostou a cabeça para trás e deu consigo a pensar em Tom. Mais uma vez, novamente a pensar naquelas mãos, a sentir aquele cheiro, o sabor dos seus lábios nos dela, parecia que Tom nunca tinha deixado o seu corpo. Este tipo de sentimentos assustavam-na. Já não estava habituada e já quase tinha desistido, o seu trabalho não permitia que ela se envolvesse emocionalmente com alguém e agora, agora que vinha de mais um encontro sabia o porquê. Estar com Tom implicou o seu corpo a exigir demasiado dos outros parceiros, já para não falar que enquanto Tom a preenchia física e psicologicamente os outros não o faziam. Continuava com aquela sensação de mau estar cada vez que entregava o seu corpo a um qualquer sujeito que pagava para isso, Tom nunca pagara nada para estar com ela (à excepção da primeira vez claro está), ela possuía Tom de livre vontade e puramente vital, estar com ele dava-lhe acesso a um patamar que nunca tinha atingido antes na vida.
Suspirou e desligou a televisão encaminhando-se ao quarto. Estava curiosa para saber quando é que ele iria ter consigo, os dois dias já passaram portanto não podia faltar muito. Só esperava é que ele não escolhesse o dia seguinte àquele, aí seria domingo e toda a gente estaria em casa, isso implicava ele lidar com Ryan e essa imagem não encaixava na totalidade no seu cérebro, até porque Tom nem sequer sonhava que Ryan era seu filho.

domingo, 1 de agosto de 2010

[13]

É duplo porque eu vou estar fora (:


Estava a dois dias de voltar à Alemanha para depois partir para as Maldivas com o irmão e mais tarde envergar numa Tour de dois meses com muitas emoções e surpresas à mistura.

Sentou-se na varanda do seu quarto de hotel enquanto fumava um cigarro e olhava a cidade de Londres. Todas as luzes, todos os carros que passavam por baixo de si, toda a agitação daquela cidade à noite lembravam-lhe Berlim. Focou um pub aí a uns 350 metros da sua varanda de Hotel.
“Magnólia.”
Não evitou o pensamento e, colado a essa recordação, Beatriz. Começava a odiar-se por não ter a coragem suficiente de um homem para voltar a pegar no telefone e ligar-lhe. Ligar-lhe e dizer-lhe tudo sem comer nenhuma palavra pelo meio ou ficar absolutamente atrapalhado quando ouvisse a voz dela de maneiras mais… ousadas! “Não sei como aguentam!” Perguntava-se como é que toda a gente adorava a sensação de estar apaixonado, Tom não gostava! Estar confuso, sempre atrapalhado na presença da pessoa (ou apenas da sua voz), completamente trocado e baralhado, aquilo certamente não era vida para si.
Entrou no quarto, apagou o cigarro no cinzeiro e despiu-se ficando apenas de boxers. Olhou o relógio do telemóvel que marcava 3 e meia da manhã e suspirou.

- Foda-se! És mesmo fraquinho, Tom está confirmado! – sentou-se na cama e pegou no telemóvel digitando o número que já tivera decorado de tantas vezes o ter marcado e não fazer nada com ele. Apertou a tecla de chamar e respirou fundo. Mesmo que não lhe dissesse nada de especial naquela noite, precisava de ter a certeza que assim que aterrasse na Alemanha teria um encontro marcado com ela e aí sim, poderia abrir-lhe o coração e descobrir aquilo que o futuro lhe podia reservar.

**
- Estou? – a voz ensonada de Beatriz fez um sorriso aparecer na cara de Tom e o seu batimento cardíaco confundir-se. Devia acelerar por ser ela, ou devia acalmar por ouvir a sua voz na sua forma mais natural possível?
- Bea… é o Tom. Desculpa as horas mas… - ela interrompeu-o. Sentou-se na cama coçando os olhos.
- Olá, Tom. – um sorriso formou-se nos seus lábios. – Está tudo bem? – perguntou preocupada.
- Sim… desculpa acordar-te mas eu tenho uma coisa pendente para falar contigo. – respirou fundo.
- O quê?
- Eu não quero dizer-te isto pelo telefone por isso… encontras-te comigo quando eu chegar à Alemanha dentro de dois dias?
- Claro que sim! – disse entusiasmada. Tom riu-se. – Ahm, foi demasiado o entusiasmo, não foi? – perguntou rindo nervosamente.
- Foi bom. – ele sorriu.
- Óptimo, é que eu também tenho qualquer coisa para falar contigo.
- Parece-me bem. – disse – Desculpa as horas, volta a dormir. Beijinhos. – despediu-se.
- Não faz mal, Tom. Beijinhos.
**

Pousou o telemóvel sobre a cama e a cabeça na almofada. Ela queria mesmo falar consigo e o encontro estava marcado. Sentia-se bem. Aninhou-se que nem uma criança nos lençóis e adormeceu com um sorriso estampado na cara, mas nunca sem tirar da cabeça o pensamento de que raio ela queria falar consigo, também.

Beatriz voltou ao sono tentando não ficar tão ansiosa pela próxima vez que voltaria a ver Tom Kaulitz. Aquele rapaz que lhe começava a tirar todos os sentidos que possuía e que começava a fazer com que o seu trabalho como objecto sexual não se desse na perfeição. Estava prestes a desistir daquilo, mas para isso teria que pensar em mais qualquer coisa para chantagear Charles e, isso, Beatriz já não sabia como o fazer.

(…)

- BILL! – Tom berrou por ele à porta do quarto. – BILL! – berrou segunda vez.
- Tom. – Bill abriu a porta, ainda em boxers, e completamente atordoado pelo sono. – Que horas são? – perguntou.
- 10. – respondeu. - Tá na ho-ra de ir em-bora! – Tom cantarolou entrando no quarto do irmão.
- Estás muito feliz. – constatou – E está na hora de ir embora para onde? – perguntou – Só tens avião logo à noite. – queixou-se deitando-se na cama novamente.
- Sim, meu querido irmão mas ainda tens que voltar ao pavilhão para o ensaio geral, só depois é que podemos regressar ao hotel e aí sim ir embora!
- Meu, tu estás a ficar com uns discursos esquisitos, Tom. Deixas-me preocupado assim, eu não gosto disso… - comeu metade das palavras. Tom riu-se. – Qual é a graça agora?
- Se experimentares deitar-te como deve de ser eu agradecia. – Bill tinha os lençóis atravessados no corpo e a cabeça a pender de umas das pontas da cama. Ajoelhava-se na altura. – Vais cair! – Tom riu ainda mais.
- Merda. – Bill sussurrou quando aterrou de nariz no chão.
- Estás bem? – Tom aproximou-se dele, ainda a rir, e ajudou-o a sentar-se novamente na cama.
- Dói-me a testa. – refilou massajando a própria testa e o nariz.
- Toma um banho e vem tomar o pequeno-almoço, estamos lá em baixo à tua espera.


- Então? Está tudo dentro dos vossos gostos? – perguntou Jost aos quatro elementos.
- Ya! – Tom sentou-se relaxadamente num dos sofás. – Só tenho que me habituar às posições em que tenho que estar.
- Sim, e ao calor que aqueles fatos fazem, mas são tão lindos! – Bill tinha os olhos a brilhar.
- Digo-vos que o fogo me mete medo! – disse Georg. – Aquilo é quente como tudo!
- E isso mete-te medo, Hobbit? – gozou Gustav. – Fraquinho, pá!
- Não é essa a questão… - disse muito senhor do seu nariz - … simplesmente já apanhei um susto com o vídeo do “World Behind My Wall”!
- Oh, mas isso também eu! – era Bill. – Tive a sensação que tinha ficado sem metade do cabelo, credo! – pôs as mãos na cabeça e apalpou o próprio cabelo de forma a ‘protegê-lo’.
- Tu e eu! – era Tom – Coitadas das minhas tranças!
- Há um ano atrás ouvia-te dizer isso para as rastas e que nunca as ias tirar e que ai meu deus eu não vivo sem elas!! – Georg riu-se. Tom fez-lhe um olhar cínico e procurou à sua volta a ver se encontrava alguma coisa para lhe atirar mas não encontrou.
- Que é feito das almofadas? – perguntou.
- Aqui. – Gustav elevou uma no ar.
- Manda! – Gustav atirou-lha à cara. – Olha menos! – riu-se para a almofada. – Toma!! – atirou-a à cara de Georg.
- Se não fizesses nenhuma estavas doente! – riu-se. – E bem podes ir buscar mais almofadas se quiseres atirar-mas porque esta vai ficar aqui. – informou pondo a almofada atrás das costas.
- Parvo. – olhou-o sussurrando.
- Sim. – sorriu-lhe feito puto, sabia que isso o provocava.