sábado, 6 de novembro de 2010

[38]

Cá está o próximo. Este sinceramente é um bocado palha mas não deixa de ser curioso. O próximo segundo as minhas contas poderá trazer bombas (a). Beijinho*

- Não quero!
- Porquê?
- Porque não quero! – Ryan refilava pela quinta vez naquela tarde. Nada parecia arrancá-lo do mesmo sítio.
- Isso não é resposta! – Beatriz já estava pelos cabelos, os rapazes estavam em concerto há uns meros cinco minutos e ela queria aproveitar para dar uma vista de olhos pela cidade afinal Madrid era quase lendário, mas Ryan não cedia por nada.
- É! – amuou e saiu da sala disparado. Estava chateado e não sabia com o quê. Estava frustrado, estava a começar a ficar cansado daquela vida. Pára aqui, dormir ali, vira e revira. Sentia-se maçado, cansado de todo o esforço que lhe era exigido sem que ele quisesse. As primeiras semanas eram só novidades, o Tom era sempre seu quando ele queria e agora isso já não acontecia. Não sabia se era o desenrolar de toda aquela viagem gigante e de todos os concertos que ouvia dos Tokio Hotel, mas não queria estar mais ali.
Beatriz foi atrás dele.
- Ryan, volta aqui imediatamente! – ordenou.
- Não! – berrou-lhe encostando-se a uma parede cedendo às lágrimas que não sabia porque saiam. Estava confuso. Sentou-se sob o olhar de Beatriz e de Sofia que chegava agora ao pé de si.

- Que se passou? – perguntou.
- Está numa fase certamente. – bufou. Não suportava discutir, e muito menos suportava discutir com o seu pirralho de 4 anos. Colou a testa à parede e respirou fundo, dirigindo-se depois a Ryan. Ao ser humano que parecia ter muito mais idade do que na realidade tinha. Beatriz interrogava-se várias vezes sobre as respostas que ele tinha na ponta da língua e que uma criança da idade dele nunca saberia dar. Ryan interessava-se pelas letras e pelos números de uma maneira apaixonante e, apesar de ainda não saber ler, já soletrava algumas coisas e sabia contar até dez sem se perder ou hesitar, na perfeição. Sofia dizia-lhe vezes sem conta: “O puto é sobredotado, tu vais ver quando ele começar a escola!”, mas Beatriz não queria acreditar nisso. Iria ter um geniozinho entre mãos? Não sabia se isso era bom ou se era mau.

Sentou-se ao lado dele sem proferir palavra, sabia que nestes casos o melhor era mesmo tratar o pirralho como um quase adulto em miniatura.
- Porque é que não queres ir, Ryan? – perguntou calmamente.
- Não quero. – respondeu de imediato.
- Mas tem que existir uma razão…
- Podemos ir para casa? – olhou a mãe pela primeira vez e Beatriz viu as suas lágrimas cristalinas.
- Tens saudades de casa, amor? – perguntou rodeando os seus ombros com um braço, puxando-o para o seu peito.
- Sim, e dos meus amigos… quero estar com eles. – confessou. – Podemos ir? – perguntou novamente, passando para o colo de Beatriz aninhando-se como usualmente fazia.
- Mais 2 semanas, Ry nem tanto. É pouco tempo…
- É? – perguntou.
- É. – ela confirmou. – E vais ver mais cidades e mais luzes e cores. – disse sabendo que captaria a atenção dele. Ryan suspirou.
- Está bem. – acabaria por ceder como sempre acontecia quando a envolvida era a mãe, podia ter sempre muitas respostas mas, no fim, aquilo que a sua mãe lhe dizia acabava sempre por fazer algum sentido e ele aceitava a escolha que era feita por si.
Beatriz deu-lhe um beijo sobre os cabelos e levantou-se, dirigindo-se ao camarim com Ryan nos braços.

*

Encostou a cabeça à parede do chuveiro, no luxuoso quarto de Hotel, e limitou-se a sentir as gotas de água escaldante fluírem através do seu corpo cansado e dorido. O final da Tour aproximava-se a passos largos, e apesar de Tom jurar a pés juntos que nunca tinha tido tanto prazer a apresentar algo aos fãs como aquele grandioso espectáculo, isso cansava-o e a cada noite que se recolhia de novo à sua verdadeira identidade a vontade de terminar com tudo parecia maior. No entanto, todas as noites ao subir ao palco onde, na plateia, alguns milhares de fãs esperavam o concerto das suas vidas, esquecia tudo o que era, o que tinha, como se vivia e desfrutava apenas da música que ele e os seus melhores amigos produziam. Cantava, pulava, corria, até quase já se estatelara mas partilhar tudo aquilo com as pessoas que deram significado ao seu sonho era uma espécie de magia. Como ele costumava dizer: “Em palco somos nós, a músicas e os fãs. Os fãs e a música, nada mais importa.”

Desligou o chuveiro e agarrou numa das toalhas mais próximas, secando o corpo das gotas de água que percorriam as curvas do fruto do seu trabalho do ginásio, e não só. Olhou-se ao espelho e teve tendência a sorrir. Podia estar cansado e até farto, mas nada fazia mais sentido no mundo do que aquilo.
Vestiu um par de boxers e dirigiu-se ao quarto conseguindo distinguir a elegante silhueta da namorada já por entre os lençóis brancos da cama.
- Acordada? – perguntou num murmúrio abraçando a barriga dela com cuidado, aconchegando-se contra o seu corpo.
- Sim… - Beatriz respondeu numa voz bastante audível mas ainda assim murmurada, e virou-se para ele.
- Está tudo bem? – deu-lhe um simples beijo na testa e colocou uma madeixa de cabelo atrás da sua orelha. – O Ryan…
- Sim, foi uma crise. Aquilo passa. – sorriu, beijando-o.
- Esperemos, é que não me apetece nada ficar sem o meu aprendiz na fase crucial! – brincou fazendo-a soltar uma gargalhada e aconchegar-se mais em si.
- Não vais ficar… - disse - … amanhã estamos onde? – perguntou.
- Amanhã vamos de viagem até Lisboa e depois de amanhã actuamos e regressamos à Alemanha para a última semana de concertos. – explicou.
- Parece-me bem. – Tom beijou-lhe novamente os lábios.
- Mas agora vamos dormir.

(…)

- Não consigo. – Ryan bufou quando pela quarta vez consecutiva não conseguira fazer o que Tom lhe pedia. Parecia demasiado complicado pôr os dedos daquela maneira específica e ter que os manter naquela posição alguns segundos. Simplesmente não conseguia.
- Consegues sim, anda lá. Mais uma vez. – olhou o pequeno sentado à sua frente num dos bancos do Tourbus.
- Chato. – voltou a tentar colocar os dedos da maneira que lhe tivera sido explicada, mas simplesmente não acertava de facto naquilo. – Não dá! – refilou.
- Dá sim, Ryan! – levantou-se, também já algo frustrado, e mostrou-lhe como se devia fazer, usando os dedos do pequeno. – Põe a mão assim e coloca os dedos nesta posição! – ordenou. Ryan olhou-o, não sabia bem se com medo ou qualquer outro tipo de sentimento mas Tom intimidara-o naquele momento como nunca tivera feito antes. Decidiu-se a acatar a ordem de Tom e seguiu á risca os passos. Conseguiu. – ‘Tás a ver? Tu consegues! – Tom sorriu-lhe.
- Sim! – Ryan sorriu-lhe também e abraçou-se à cintura de Tom, visto estar à sua altura.

- Bea, viste o meu estojo de maquilhagem? – perguntou Sofia, dirigindo-se a ela.
- Não. – respondeu encolhendo os ombros.
- E não tens ideia de onde o possa ter deixado?
- Não. – respondeu novamente mais interessada no filme que na amiga.
- Tu sabes, Bill? – desta vez dirigiu-se ao namorado.
- Não. – ele respondeu olhando também o filme.
- Não o viste mesmo? – insistiu – Partilhas quarto comigo!
- Não sei, amor. – Bill respondeu olhando-o por meros segundos mas voltando imediatamente a cabeça até ao filme.
- Foda-se. – refilou baixinho.

- Foda-se! – Ryan exclamara. Nunca tivera ouvido aquela palavra na vida e parecia-lhe extremamente interessante de dizer. Beatriz, Tom, Bill e Sofia olharam o rapaz. – Foda-se. – ele repetiu e todos, à excepção de Beatriz, se alarmaram ainda mais.
- Isso não é pa… - Tom ia a falar mas Beatriz cortou-o.
- Cala-te! – Tom olhou-a, sem perceber. – Se lhe dizes que não é para dizer ele vai estar constantemente a dizê-la! – explicou em murmúrios de modo a que apenas os adultos ouvissem.
- És capaz de ter razão… - Bill falou.
- Ignorem-no quando ele disser isso. Vai perceber que não há reacções e esquece.
- Tu percebes mesmo disto. – Sofia olhou-a.
- Acho que é suposto. – encolheu os ombros e olhou o filme, não ligando ao filho que continuava a explorar a palavra a ver se mais alguém tinha qualquer tipo de reacção. No entanto, Ryan apercebeu-se que ninguém lhe ligava nenhuma e decidiu-se a sentar-se novamente no chão a praticar o acorde que Tom lhe tinha ensinado.

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