terça-feira, 31 de agosto de 2010

[20]

Próximo, quinta (:


- Mãe, mãe! – Ryan abanava o corpo de Beatriz sobre a cama.
- Que foi, amor? – perguntou ao pequeno virando-se para ele, meio adormecida ainda.
- Quando é que vou ver o Tom outra vez? – perguntou. Beatriz arregalou os olhos e esfregou-os abrindo bem os ouvidos. Agora sim estava acordada.
- Tu queres ver o Tom outra vez? – perguntou. Ryan riu-se da cara da mãe.
- Sim, gostei dele. – subiu com alguma dificuldade para cima da grande cama e sentou-se aos pés de Beatriz. – E gostei daquelas coisas que ele tinha na cabeça. – disse. – Também posso fazer? – Beatriz riu-se e puxou o rapaz de cabelos escuros para si, abraçando-o.
- Logo se vê, filho. Queres mesmo umas coisas daquelas? – Ryan acenou afirmativamente. – Então quando tiveres a idade dele! – disse.
- E que idade ele tem? – perguntou, também não era assunto que lhe interessasse mas já que a mãe perguntava…
- A mesma que eu. – respondeu.
- Oh, isso é muito tempo! – saltou da cama e cruzou os braços. Beatriz sorriu perante a figura pequenina.
- Logo se vê. – disse saltando também da cama. – Agora vamos vestir e ir para a escola. – pegou nele ao colo antes que tivesse tempo de fugir.
- Não quero! – agarrou-se ao pescoço de Beatriz. Lá estava a habitual birra das 8 da manhã.
- Amanhã já não vais, é fim-de-semana. – respondeu, pousando-o no chão do quarto azulado, o quarto do filho. Ryan sentou-se na cama abanando as pernas.
- E o Tom, mãe? – perguntou novamente. Beatriz não sabia se havia de ficar contente ou preocupada. Ryan e Tom falavam um do outro sem quaisquer problemas, a sua vida estava a correr demasiado bem e ela não estava habituada a ter tanta felicidade reservada. Será que havia qualquer coisa prestes a acontecer? “Vá lá, Bea aproveita!” respondeu-se a ela mesma. “Não são todos os dias que o teu pseudo-namorado gosta do teu filho!”
- O Tom está de férias, amor… - disse despindo-lhe o pijama.
- Mas ele vai ficar de férias para sempre? – perguntou com uma confusão própria da idade.
- Não. – riu-se. – Fazemos assim… quando ele vier de férias vem jantar connosco, ok?
- Sim! – Ryan saltou da cama fazendo Beatriz sorrir. O pequeno correu pela casa apenas em cuecas, aproveitando o facto de se ver livre das mãos da mãe.
- Anda cá, ó peste não te livras da escola! – Beatriz correu atrás dele, conseguindo apanhá-lo na cozinha.

- Vocês são sempre a mesma coisa! – riu-se Sofia deixando a leitura e a caneca do leite para mirar os dois protagonistas da cena.
- Já sabes! – riu-se – Mas que fazes levantada a estas horas? – perguntou, afinal Sofia já tivera acabado todos os trabalhos da faculdade e estava de férias.
- Vou espairecer. – disse.
- Porque é que isso me cheira a rapaz? – Ryan escapou-se para a sala.
- Porque é. – suspirou. – É assim tão difícil encontrar o meu Tom? – sorriu apreciando o facto da amiga ter encontrado ‘o tal’, ou pelo menos parecia.
- Ele há-de aparecer. – sorriu-lhe. – Bem, vou ver do Ryan. – dirigiu-se à sala para o apanhar e voltar ao quarto com Ryan no colo a berrar que não queria ir para a escola, mais uma vez.

(…)

Sentia o seu corpo praticamente no auge. Sentia-a arrebatar contra si e podia sentir que aquilo seria muito mais que um orgasmo partilhado a dois.
Conseguia ouvir os seus gemidos altamente femininos no seu ouvido. “Tom…” Ouvia e ouvia vezes sem conta. Gostava. Aquela voz. As suas mãos passearem no seu corpo, a sua essência misturada com a dela. Os seus lábios insistiam em morder o ombro dela e a sua voz continuava a chamar por si…

- Tom! Óh Tom, acorda! – Bill abanava-o já farto de chamar por ele, sentado na cama, vendo-o morder a almofada. – Tom! Que caraças. – preparava-se para se levantar quando sentiu Tom gemer qualquer coisa e puxá-lo pelo pescoço. – TOM! – berrou empurrando-o bruscamente, levantando-se.
- Hum… - Tom mexeu-se - … Bea. – disse, ainda que demasiado emaranhado e sentido, mas Bill percebeu.
- Bea? Este gajo está a sonhar e eu é que sou abraçado, pois está bem. – dirigiu-se à casa de banho e encheu o copo de lavar os dentes com água. – Acorda oh sonhador! – disse atirando-lhe a água para cima. Tom soltou um berro sentando-se na cama, coberto até à cintura pelos lençóis brancos, ainda meio ofegante.
- Mas tu és parvo? – Tom perguntou, olhando o irmão com as mãos na cintura e cara de poucos amigos. – Achas correcto?
- Bem, depois de estar a chamar-te à séculos sem sucesso, de me abraçares e de me chamares Bea… - enumerou - … acho correcto sim. – disse encolhendo os ombros.
- Estava a sonhar, dá-me o desconto. – refilou levando uma mão à testa, recordando o momento e sentindo-se ainda demasiado excitado, olhou para baixo. Tom estava excitado sexualmente. – Bill, queres ir onde? – puxou a almofada para o meio das pernas, desviando assunto.
- Ver a cidade, importas-te de levantar o rabo da cama?
- Claro que não! – disse de sorriso amarelo, faltava-lhe agora o irmão gozar com ele pela excitação não propositada. – Vai tomar o pequeno-almoço que eu já lá vou ter.
- Já tomei. – disse, olhando-o. – Mas vou deixar-te sozinho e entregue à mão! – riu-se, já tinha percebido que tipo de sonho o irmão estava a ter. Saiu quarto.
- PARVO! – berrou-lhe atirando a almofada contra a porta. Levantou-se e apoiou o braço na parede, apoiando nele a testa meia molhada. – Preciso de um banho. – constatou.

*

- Mais descontraído? – perguntou Bill rindo, assim que o viu sentar-se no sofá a comer um iogurte.
- Estou a dar em louco. – confessou, sentindo falta de Beatriz.
- Prepara-te… vem aí a Tour. – disse-lhe.
- Não me lembres disso. – suspirou encostando a cabeça para trás. – Eu morro até lá. – disse.
- Tom, por amor de Deus, é só uma rapariga! – disse-lhe, apesar de saber que não era bem assim.
- Não é só uma rapariga! – argumentou levantando-se andando pelo compartimento. – É a rapariga de quem eu gosto! – Bill sorriu-lhe. – É verdade, Bill.
- Eu sei, sinto-o. – aproximou-se de Tom e olhou-o fundo nos olhos pousando as mãos nos seus ombros. – Se achas que precisas de cometer loucuras para a ter sempre contigo, comete. Se achas que precisas de mover montanhas para que seja apenas tua, move. Se achas que não vives sem ela, diz-lhe isso. Deixa-te guiar pelo coração uma vez na vida, mano. – pousou-lhe a mão sobre o peito, do lado esquerdo. – Ele sabe sempre o que fazer. – Tom suspirou abraçando o irmão.
- Achas que lhe deva pedir para vir em Tour? – perguntou pensado demasiado rápido no que o irmão lhe tinha dito.
- Se achas bem… - encolheu os ombros - … sim. – sorriu.
- Obrigado! – inspirou fundo e pôs um sorriso na cara. – Vamos passear então! – preparava-se para sair da casa quando...
- Hey, primeiro deitas aquilo fora! – advertiu apontando a embalagem do iogurte pousada ao lado do sofá.
- Pareces a mãe, meu chiça. – refilou voltando atrás no caminho e obedecendo ao irmão mais novo dez minutos que ele.

(…)

Sentou-se no sofá, de braços cruzados mirando a parede vermelha à sua frente. Não sabia o que fazer da vida. Não sabia qual era o próximo passo a dar. Estava confusa. Primeiro tinha-se decidido a falar com Charles e a fazer-lhe frente, mas a ideia de perder Ryan por essa atitude heróica demoveu-a, já para não falar do que Tom lhe dissera e que confirmava a questão anterior. Talvez devesse esperar que Tom voltasse para poder falar com ele e resolver a sua vida de uma vez por todas, aquelas confusões no seu consciente incomodavam-na demasiado. Já começava a conversar consigo mesma sem arranjar respostas, isso frustrava-a.
Olhou o telemóvel sobre a mesa e decidiu matar saudades da voz que lhe aquecia o coração.

**
- Beeeaaaa!!! – fora Bill que atendera o telefone.
- Ahm, Bill? – perguntou sem ter certeza, rindo.
- Sim. – confirmou feliz – Tudo bem?
- Sim e contigo? – perguntou entusiasmada.
- Dá cá isso óh cabeça de laca! – Beatriz ouviu Tom do outro lado e riu-se.
- Tudo à excepção do teu namorado que não me deixa ter uma conversa decente contigo! – Beatriz riu novamente.
- Dizes bem Bill, quem é o namorado sou eu, por isso dá cá o telefone! – refilou tentando tirar-lhe o próprio telemóvel das mãos.
- Bem, Bea o Tom ainda me mata e depois não te posso conhecer, por isso beijinhos. – riu-se.
- Beijinhos, Bill. – ela riu-se também.
- Olá. – fora a voz grave e sensual de Tom que soara ao seu ouvido e fizera o seu ritmo cardíaco acelerar.
- Olá, Tom. – respondeu. – Foram passear?
- Sim, viemos ao centro da cidade, sinceramente não acho que tenha grande coisa para ver mas o meu irmão é aquela base. – riu-se.
- Acredito. – riu com ele. – Já sabes quando voltas?
- Claro que sim! Dentro de dois dias estou de volta a Alemanha. – disse. – Morto de saudades tuas… - acrescentou num tom mais baixo e mais sentido, dando logo pelo olhar de gozo de Bill em si.
- Também tenho saudades tuas… - respondeu no mesmo tom. - … quero tanto que voltes. – suspirou. – Bem, não entremos em lamechices! – impôs-se. – O Ryan quer voltar a ver-te…
- O Ryan? – sentiu-se admirado.
- Sim, diz que gostou de ti. Inclusive me pediu para fazer, e usando as palavras dele, umas coisas como as que tu tens na cabeça! – Tom soltou uma gargalhada sonora.
- A sério?!
- Sim. – respondeu – Que me dizes de cá virem jantar quando chegarem? – propôs.
- Oh, a mim parece-me perfeito! E deixo de ouvir o Bill dizer que te quer conhecer!
- Já sou assim tão famosa?
- Nem imaginas. – riu-se. – Está mesmo curioso para te ver!
- Uhh, sou assim tão gira é? – perguntou mais sensualmente.
- Demasiado gira até, mas não é para ele! – ela riu-se. – És muita areia para o carrinho de brincar do Bill! – Bill, que tivera ouvido o comentário, espetou-lhe um calduço. – ‘Tá quieto! – Tom protestou, fazendo Beatriz soltar nova gargalhada.
- E para o teu carrinho de brincar não sou areia a mais? – perguntou mais pela provocação do que pela curiosidade, sabia perfeitamente que Tom conseguia com ela de todas as maneiras possíveis e imaginárias.
- Eu não tenho um carrinho de brincar, Bea tenho um autotanque dos bombeiros e tu sabes disso muito bem! – disse senhor do seu nariz, assistindo à gargalhada em uníssono de Bea e do irmão. – Vocês estão demasiado coordenados para meu gosto! – refilou frustrado.
- A cena do autotanque matou-me, a sério. – era Bill que ria desalmado. Podia já ter ouvido falar em camiões, camionetas, carros, carrinhas e coisas semelhantes para aquela frase feita, mas autotanque? Só mesmo Tom para uma ideia daquelas, totalmente absurda.
- Mas sim, Tom… - começou Beatriz - … tu tens um autotanque. – riu-se, não conseguindo conter-se mais.
- Estou lixado com vocês os dois… - disse elevando ambas as sobrancelhas. – Mas se é para continuarem a gozar comigo acaba-se já aqui a conversa! – ameaçou, levantando-se da cadeira da esplanada onde estava sentado. – Bill, fica aí que eu tenho umas coisas a fazer com ela. – disse olhando o irmão e apontando o telemóvel.
- Até parece que sou um cãozinho para me dizeres para ficar aqui. – Bill protestou e Tom encolheu os ombros.

- Que tens para falar comigo? – perguntou Beatriz depois de uma gargalhada pela conversa que ouvia Tom ter do outro lado.
- Não vejo o dia de voltar a estar contigo. – confessou encostando-se à parede, do lado oposto da esplanada.
- Somos dois. – suspirou. – Mas só faltam dois dias, vamos pensar positivo. – sorriu.
- Sim. – Tom concordou com um sorriso. – Como estão as cenas no clube?
- Eu acho que não vou fazer nada, vou deixar andar assim e quando o Charles descobrir que não faço mais nada para além do espectáculo no varão, logo vejo. – encolheu os ombros.
- Se achas o mais certo eu apoio-te, mas ainda assim faz-me confusão estares praticamente nua em frente àquela gente toda!
- Também já estiveste entre aquela gente toda…
- Eu sei, mas era diferente.
- Como assim? Não foste lá só para teres uma boa noite? – perguntou.
- Sim. Mas deixei-me levar. Os que lá vão provavelmente são todos casados! – refilou, ela riu. – Qual é a graça?
- São, são todos casados, é que nem se dão ao trabalho de tirar a aliança. Isso sinceramente mete-me nojo.
- Mas continuavas lá…
- E que querias que fizesse?! Sabes como está a minha vida! – disse meio irritada. – A minha saída do clube vai-se dar apenas por tua causa! Mudaste-me, mudaste a minha maneira de pensar! Fizeste-me sentir aquilo que julguei estar completamente perdido para mim. E para além de me fazeres sentir mulher, Tom fizeste-me sentir pessoa e isso é algo que nunca te vou conseguir pagar! – suspirou. Tom sentiu as pernas fraquejar ao dar conta que aquelas palavras o atingiam directamente no coração. Ela era sua, e planeava pôr em risco a própria vida e a vida do filho por si. Tom não se podia queixar da situação quando Beatriz parecia gostar demasiado de si.
- Não tens que me pagar. – conseguiu pensar. – Eu gosto muito de ti Bea, e por gostar tanto quero que sejas apenas minha, não te quero ver a exibir partes íntimas a outros! – disse meio sério meio brincalhão odiava ambientes pesados, por isso se os pudesse aliviar, fazia-o.
- Compreendo-te. – levantou-se do sofá andando à volta da sala.
- Desculpa se é pedir demais mas… - ela interrompeu-o.
- Demais, Tom?! Isso é uma prova para mim. – sorriu. Ele suspirou.
- Dentro de dois dias vais poder dizer-me isso nos olhos.
- Já não era sem tempo. – respirou fundo voltando a sentar-se.
**

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