sexta-feira, 15 de outubro de 2010

[32]

Tenho um amor parvo ao final deste capítulo. Bem, o proximo virá segunda, ou assim (:


O concerto não tardou muito a atingir o derradeiro pico.
Era totalmente visível a dedicação que existia no palco, a cumplicidade que os quatro partilhavam. Aquilo que as fãs verbalizavam em berros eram simplesmente os sentimentos mais resguardados que, num turbilhão de emoções como era um concerto daquele calibre, se revelavam. Beatriz conseguia ver a felicidade estampada na cara de qualquer um deles, notava-se à vista desarmada que amavam o que faziam da vida e que para além dos fãs, da música e da junção entre todos, nada mais existia naquele pavilhão. Eram felizes na ribalta e a ribalta era somente o seu mundo.

Olhou o filho que se mexia irrequietamente ao som das batidas da bateria de Gustav e como na sua forma mais pura de criança imitava os movimentos de Tom no palco. Achava a situação extremamente adorável. Ryan estava a deixar-se levar por Tom de uma maneira que ela nunca o tivera visto afeiçoar-se a alguém. Era incrível a ligação que conseguia ver entre os dois. Só esperava que nunca acontecesse nada que a separasse de Tom e como tal fosse forçada a separá-los a eles. Seria cruel e pior que isso seria um amor demasiado bonito ver-se cair aos bocados.
Deixou os maus pensamentos de lado e reparou que Bill vinha na direcção deles.

- Então, correu bem? – perguntou completamente pingado em suor. Imediatamente Natalie lhe limpou a maquilhagem que escorria e lhe passou uma toalha, fazendo o mesmo aos outros três à medida que chegavam àquela parte do backstage.
- Correu muito bem! – Sofia abraçou-se a ele. – Argh, estás todo molhado! – riu-se afastando-se.
- Como se nunca me tivesses visto suar! – Bill riu-se da piada parvo-perversa que pensara ter mandado.
- Estás a ficar saidinho da casca, maninho! – Tom gozou-o limpando o suor que lhe escorria pelo pescoço com a toalha. Viu Ryan dirigir-se aos seus braços com toda a determinação. – Então, puto gostaste? – perguntou elevando-o na ar.
- Sim! – disse, estava visivelmente feliz e com um largo sorriso nos lábios. – Quando for grande quero ser como tu! – o sorriso visível aumentou e Tom não evitou sorrir-lhe também.
- Eu ensino-te, queres? – perguntou. Beatriz sorriu espantada pelo momento. Ryan já via Tom como um modelo a seguir.
- Quero! – abraçou o pescoço de Tom. – Obrigado. – o olhar infantil e terrivelmente inocente que olhava Tom no momento, fê-lo arrepiar-se. Começava a desenvolver qualquer coisa com ele e não sabia bem o que era, mas até gostava. Sorriu-lhe e pousou-o no chão, vendo-o dirigir-se a Gustav e Georg. O medo perdera-se facilmente depois de os conhecer melhor.

- E tu? Gostaste? – perguntou abraçando a namorada pela cintura. Beatriz pendurou-se no seu pescoço.
- Eh, nem por isso. – torceu o nariz gozando com Tom.
- Parva! – riu-se beijando os seus lábios. – Tu adoraste!
- Então se sabes porque é que perguntaste?
- Porque sim! – beijou-lhe novamente os lábios impedindo-a de arranjar mais argumentos.
- Pois, pois tu gostas é de elogios! – ela riu-se.
- Ora, como se isso fizesse algum mal! – refilou.

- Onde é que tu foste buscar isso? – Gustav olhou Ryan sem perceber o que é que ele fazia com uma bola saltitona nas mãos já perdida por todo o lado e a saltar paredes atingindo o pessoal que passava ocasionalmente.
- Foi ele. – apontou David que se riu.
- É gira. – encolheu os ombros, olhando a bola. E olhou Ryan que tentava apanhá-la. – Ela salta mais que tu! – riu-se e deitou a língua de fora a Ryan que se riu para ele.
- Eu sou pequenino. – facilmente se começava a dar bem com toda a gente, certamente que dentro de dois três dias já não tinha medo de nada ou de ninguém. – É normal.
- Pois és, pá. – David sorriu-lhe. Não podia deixar passar em branco o facto de adorar crianças, e Ryan era adorável. – E és inteligente também.
- Inteli-gente? – perguntou, nunca tinha ouvido aquela palavra na vida. – O que é isso? – estava interessado em saber que raio de coisa era aquela que David dizia que ele era.
- Quer dizer que sabes muitas coisas. – explicou o mais fácil que se lembrava.
- Ah! – ficou subitamente fascinado. – Mãe, mãe! – chamou dirigindo-se a ela e Tom que conversavam com Sofia.
- Diz, amor! – olhou-o na mesma emoção que ele lhe falava.
- Sou… - pensou um bocadinho em como dizer a palavra, mas não se lembrava. Virou-se e olhou David, a ver se ele repetia. David assim o fez, mas ao ouvido do pequeno de modo a que apenas ele ouvisse. – Sou inteligente. – sorriu orgulhoso de si mesmo por conseguir dizer uma palavra como aquela. Beatriz sorriu.
- Pois és! – beijou-lhe os cabelos negros.

*

- Por exemplo, como é que se chama um cão sem patas? – era Georg que ia entretido a contar piadas pelo corredor do hotel.
- Não se chama, vai-se lá buscar! – fora Beatriz a responder.
- Eu não acredito que tu sabes as piadas estúpidas dele! – Bill estava parvo.
- Ah! A Bea é cá das minhas! – Georg abraçou-a pelos ombros.
- É buéda giro! – ela passou um braço pela cintura do rapaz. – Sabes porque é que as vacas se babam? – perguntou.
- Não…
- Porque não sabem cuspir! – desmanchou-se a rir em conjunto com Georg e Sofia levou uma mão à cara em clara adversão à piada.
- Habituem-se! – avisou. – Com estes dois juntos estou mesmo a ver que vai dar asneira. – Tom não pôde deixar de sorrir ao vê-la rir. A confirmação da felicidade matinal de Beatriz revelava-se correcta e isso fazia-o feliz a ele. Olhou à sua volta à procura de uma pessoa pequenina e não viu Ryan.

- O puto? – perguntou ao irmão em segredo. Bill passou os olhos pelo corredor e também não o viu.
- Não sei. – “Merda.” Tom pensou. Onde raio é que ele se enfiara?
- Vou ver dele, a Bea que se mantenha entretida. – já sabia que se ela se apercebesse que Ryan não estava ali, provavelmente se iria culpar disso e Tom não queria que tal coisa acontecesse.

Voltou atrás no corredor e não precisou de dar dez passos para o encontrar à janela. Aquela janela que dava para o pequeno terraço do andar em que eles estavam instalados.
- É bonito, não é? – Tom conhecia Luxemburgo e conhecia bem demais aquela vista. Também ele chegara a passar noites ali, somente a admirar as luzes da cidade e o movimento característico. Cada vez que qualquer coisa corria mal, cada vez que discutia com alguém importante, cada vez que aquilo que tinha planeado não se realizava, tinha o hábito de admirar a noite de todas as cidades em que estava. Não importava qual o país desde que fosse possível aceder a uma varanda e observar as estrelas falsas que todas as grandes cidades possuíam. Sentou Ryan sobre o parapeito e sentou-se ao lado dele, vendo-o encostar a cabeça ao vidro como se alcançasse o exterior mais facilmente.
- Sim. – sorriu inocentemente olhando mais fundo. – Tem luzes e cores. – balbuciou.
- Queres sair para ver melhor? – perguntou ao vê-lo tão entusiasmado.
- Posso? – olhou-o de imediato.
- Sim. – Tom sorriu tão docemente como nunca pensara voltar a sorrir depois da sua infância. Saltou do parapeito e trazendo Ryan consigo, abriu uma das portas que se encontravam ao lado da grande janela.

Saíram e o frio imediatamente se fez sentir. Tom pegou em Ryan de modo a protegê-lo mais do frio, o simples casaquinho que ele trazia não fazia muito. Aproximou-se da beira e observou o olhar do pequeno rapaz. Tão puro, tão inocente, tão feliz. Sabia-lhe bem ver aquela imagem, parecia que na presença dele voltava a ser criança novamente. Quase se via espelhado no olhar de Ryan e as suas lembranças passadas voltavam a si. As brincadeiras, as correrias em casa com o irmão e até os raspanetes que ouvira vezes sem conta da mãe. Até certo ponto sabia o que era deixar de ter pai de um momento para o outro e aí podia comparar-se a Ryan, mas o que se esquecia é que o pequeno, que no momento se mexia radiante no seu colo, nunca conhecera o pai. Nunca tivera a oportunidade de o chamar, de lhe dar um beijo de boas noites, nunca tivera ouvido uma história ao adormecer, e pior que isso nunca tivera sido desejado. Aparecera porque a sua mãe era demasiado bonita, demasiado atraente e a sua vida a tinha arruinado e atraiçoado pelas costas. Pensando melhor não tinha assim tanto em comum com Ryan, mas poderia ter. Poderia fazer o papel correspondente ao do seu padrasto e dar-lhe todo o amor que conseguia e (já) sentia por ele.
Beijou-lhe o topo da cabeça.
- Vamos para dentro? Está frio aqui, minorca. – Ryan sorriu-lhe e abraçou-se ao seu pescoço.
- Vamos, papá.

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