domingo, 24 de outubro de 2010

[35]

Sinceramente só espero que isto não se torne tão repetitivo. Em relação ao clube Magnólia vejamos se existem respostas ;) Próximo quarta ou quinta (:


- Tu tens demasiado jeito para isto! – Beatriz refilou com Bill enquanto jogavam ping-pong, depois do concerto dado em Moscovo.
- Não tenho culpa de ser bom em tudo o que faço! – riu-se voltando a marcar ponto no campo da amiga. – És uma desgraça!
- Parvo. Ainda te vou ganhar! – fez o serviço.
- Veremos! – riu novamente.

Sofia e Georg estavam distraídos nos matraquilhos, Gustav tinha a paciência certa para brincar com Ryan e Tom entretinha-se a dedilhar uns quantos acordes soltos pensando na borrada que julgava ter feito em palco. Não sabia onde tinha a cabeça quando meteu os pés pelas mãos na parte acústica. Estava chateado consigo mesmo, sempre fora demasiado profissional e perfeccionista e, se no primeiro concerto tudo saíra como previsto, não conseguia perceber como é que no sexto concerto da Tour a coisa tinha descambado daquela maneira. Bill tinha-lhe dito que aquilo poderia ter sido dos nervos, afinal as expectativas para aquele concerto estavam demasiado elevadas e que não se tinha notado no público, no entanto ele não se acreditava nas palavras do irmão. Nunca os nervos lhe tinham levado a melhor porque é que agora isso tinha que acontecer? Não percebia.
- Tom?! – Georg chamou. – Vens ou não? – Tom olhou-o.
- Onde? – perguntou desnorteado.
- Hotel. – respondeu elevando a sobrancelha. – Querias que fosse para onde? Para a noite? – gozou como tipicamente fazia. Tom levantou-se entregando a guitarra a um dos seguranças presentes na sala, nem sequer ligando.
- Sei lá. – encolheu os ombros e sentiu a sua cintura ser abraçada por trás acompanhada de um beijo nas costas sobre a sua t-shirt. Era Beatriz.
- Acho que ele não te vai dar respostas. – ela respondeu a Georg que saiu da sala acompanhado de Sofia, Bill e Gustav que trazia Ryan ao colo. – O concerto correu assim tão mal? – perguntou docemente. Tom rodeou-lhe os ombros, saindo do compartimento e seguindo os outros.
- Não era suposto aquilo ter acontecido. – suspirou dando-lhe um beijo sobre os cabelos.
- Eu nem percebi onde te enganaste. – disse sinceramente. Também não percebia muito de música.
- Estás a dizer isso para me animar ou é sério? – olhou-a.
- É sério. – disse confirmando-o com um olhar. - Onde é que te enganaste?
- Troquei a ordem dos acordes na “Humanoid” . – encolheu os ombros.
- Não se percebeu. – sorriu-lhe numa tentativa falhada de o animar. Tom levava o trabalho bastante a sério e aquela sua disposição estava a preocupá-la.

*

- Mãe posso ir ter com o Tom? – Ryan já estava de pijama vestido, mas não queria ir para a cama de maneira nenhuma.
- O Tom precisa de pensar, amor. – tentou explicar.
- Posso ir pensar com ele? – perguntou inocentemente – Eu sei onde ele está!
- Sabes?! – Beatriz surpreendeu-se. Tom não dissera onde ia, depois de terem chegado ao Hotel. Simplesmente avisou que ia espairecer.
- Sim. – acenou afirmativamente – Posso ir? – dirigiu-se à porta do quarto.
- Mas calça-te. – ordenou. Ryan sentou-se no chão do próprio quarto e calçou os ténis, enquanto a mãe lhe vestia um casaco. – E eu vou contigo!
- Mas mãe! – refilou. Beatriz podia ceder àquele pedido naquela mesma altura. Podia, sem problemas. Mas não fazia ideia de onde Tom estava e até onde Ryan iria atrás dele.
- Só até perto então, depois deixo-te. – Ryan concordou embora não muito seguro nem muito contente com a condição.
Saiu do quarto de mão dada com a mãe e pediu-lhe que o levasse até ao último andar do hotel. Beatriz não percebeu porquês até sair no último piso e aperceber-se de uma porta para o telhado. Agora fazia sentido. Tom adorava a noite, tal como já tivera explicado a Ryan uma vez e também ela o sabia.
- Podes ir embora? – perguntou com o seu sorriso.
- Cuidado! – avisou-o. – E se o Tom não estiver aí vem logo para baixo!
- Ele está. – estava demasiado calmo e falava com se não tivesse três anos, tivesse mais. Beatriz às vezes assustava-se com estas coisas.

Ryan deslocou-se pelo telhado até à outra ponta onde Tom se encontrava. Estava frio e o vento era totalmente gelado. O pequeno apertou o casaco até ao pescoço e pôs as mãos nos bolsos.
Tom fumava um cigarro e expirava o fumo contra o vento, olhando o movimento por baixo dos seus pés. Era fascinado por aquilo e a cidade de Moscovo tinha uma movimentação demasiado característica à noite. Sorriu para si mesmo e deixou de dar importância ao assunto que o levara até ali. Talvez Beatriz e Bill tivessem razão e nada tivesse passado para o público. Não precisava de continuar a martirizar-se por isso, o próximo concerto sairia perfeito se dependesse dos seus dedos e da sua concentração!
- Pa… Tom? – Ryan travou-se antes de lhe chamar pai. Devia?
- Minorca! – Tom surpreendeu-se pela pequena presença ali. – Que estás aqui a fazer? E sozinho? – perguntou.
- Já sou grande! – refilou. Mas porque é que toda a gente insistia em que ele precisava de alguém para ir a qualquer lado?
- Ok, ok. – Tom riu-se. – Anda cá. – chamou-o.
- A mamã diz que isso faz mal. – apontou o cigarro.
- E ela tem razão. – atirou-o para o chão e esmagou-o com a biqueira do pé.
- Disseram que estavas a pensar… estavas a pensar em quê? – perguntou curiosamente encaixando-se entre as pernas de Tom e o muro que os separava da cidade. Tom olhou em frente e Ryan sorriu ao observar aquela vista imensa e cheia de cores, luzes e movimento. Aquilo era bonito visto dali.
- Não era nada de importante.
- A sério? – virou-se para ele.
- A sério. – sorriu.
- Mesmo mesmo? – perguntou, só para tirar as dúvidas.
- Mesmo mesmo. – Tom confirmou baixando-se até à sua altura.
- Se tiveres um problema podes contar-me. – disse muito sério. – A mãe diz-me sempre que faz bem contar os problema a outra pessoa… - parou por momentos brincando com os fios que saíam do capuz de Tom - … diz que ficamos mais leves. – terminou sem perceber bem o conteúdo da frase.
- A tua mamã sabe muitas coisas. – sentou-se no chão frio e Ryan sentou-se ao seu colo, não porque o chão estava de facto frio mas porque o aconchego que o corpo de Tom sempre lhe proporcionava significava muito mais do que aquilo que toda a gente à sua volta podia imaginar.
- É, - concordou – e eu gosto muito dela. – deitou a cabeça para trás, no ombro de Tom.
- Eu também, minorca eu também. – sorriu mais uma vez em direcção ao horizonte, suspirando. – Não tens sono? – perguntou-lhe.
- Não. – respondeu. – Podemos ficar aqui?
- Estás em pijama! – riu-se despenteando-lhe os cabelos negros.
- E tu estás vestido! – ripostou.
- Que idade é que tu tens, minorca? – perguntou-se em voz alta.
- Vou fazer 4 anos depois de amanhã! – disse sorridente mexendo-se sobre as pernas de Tom, virando-se para ele, não se apercebendo que aquilo não tivera sido realmente uma pergunta mas um pensamento.
- Que prenda é que queres? – perguntou na brincadeira com ele.
- Quero que me ensines a tocar guitarra e a ser como tu! – sorriu e abraçou-se ao pescoço dele. – E quero que sejas mesmo meu papá. – Tom começava a ficar preocupado consigo mesmo. Cada vez que Ryan fazia aquela observação o seu coração quase queria saltar-lhe pela boca e o seu consciente adorava essa situação. Estaria a ficar paranóico ou o amor que o miúdo tinha por si estava realmente a ser retribuído? Talvez fosse isso. Dali para a frente, não teria vergonha de ouvir a voz do seu minorca tratá-lo por papá.
- Então vamos dormir para que esse dia chegue depressa. Sim, filho? – era bom libertar-se dos medos.
- Sim! – Ryan irradiava felicidade. Tom era mesmo seu pai e ninguém lho ia tirar.

(…)

James andava desesperado de um lado para o outro no seu pseudo-escritório no Magnólia. A maneira como Beatriz tivera reagido àquela notícia não o agradara em nada e, mesmo já tendo passado alguns dias depois disso, o seu coração não descansava. Precisava de saber como ela se encontrava, mas ali não podia fazer a chamada. Seria demasiado perigoso. Sentou-se na cadeira e enterrou a cara nas mãos, com os cotovelos apoiados na secretária.

- James! – era Charles que entrava, mais uma vez e como sempre, a matar dentro da sua privacidade.
- Que é que foi agora?! Vamos mesmo fechar? – apesar da calma que sempre transmitia em qualquer altura, esta situação era demasiado desesperante para não mexer com os seus nervos.
- Vamos lá a ter calminha, sim? – impôs-se.
- Desculpe. – disse, não o sentindo de facto – Mas isto mata-me. Onde é que eu vou trabalhar se isto fechar?! – bem que podia usar os seus verdadeiros sentimentos para ilustrar a força dos falsos. Não perdia nada e o totó do patrão acreditaria, como sempre. Devo dizer que o homem devia um bocadinho à inteligência.
- A Hannah? Já a encontraste? – perguntou, nem ligando à preocupação do outro.
- Não, desapareceu do mapa por completo! – disse olhando-o nos olhos fazendo a mentira tornar-se verdadeira.
- Estranho. – levou a mão ao queixo e fitou um ponto no tecto. – Essa gaja não pode desaparecer assim sem mais nem menos! Sabes com quem é que ela vivia?
- Sei que vivia com a criança. – desviou o olhar. Toda a gente que trabalhava há tantos anos como Beatriz no clube sabiam da existência de Ryan, e como tal muitas das mulheres que por ali se passeavam faziam os serviços por medo. Medo de um dia acabarem como Hannah. – E o senhor sabe que eu também não tinha grande intimidade com ela. Era só quando nos cruzávamos nos camarins para conversar sobre o espectáculo. Ela não dizia mais nada e eu também nunca puxei por ela. – aquilo saiu-lhe tão calma e relaxadamente que ele próprio acreditou na história.
- Isso cheira-me a esturro. Ela não desapareceu sozinha. – mais uma vez não ligara nenhuma ao que James dissera. – Continua a procurar. Eu vou instruir alguém para a substituir. – ia virar costas mas hesitou – Quem é que achas com perfil para isso?
- Não sei. – encolheu os ombros, olhando o patrão. – E se disfarçássemos alguém!? – a ideia pareceu-lhe brilhante, pelo menos assim poderiam dar mais espaço a Beatriz. Ainda que só ele soubesse isso.
- Não é uma má ideia… - Charles pensou na ideia - …quem é mais parecida com ela? – perguntou em voz alta. – Talvez a Marinne? – James acenou afirmativamente. – Boa ideia, han? Se isto der lucro até te aumento o ordenado! – subitamente ficara bem humorado. – Gosto de ti, rapaz. – sorriu e saiu.

James ficou com cara de parvo a mirar a porta, esquecendo o problema por uns minutos. Charles tinha gostado demasiado da ideia.

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