segunda-feira, 26 de julho de 2010

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- Não me digas que vais embora?
- Não é que eu queira, Tom. – envergou o vestido – Mas não vivo do ar, tenho trabalho a fazer. – disse-lhe.
- Eu pensei que ficavas a noite comigo, mas se tens que ir… - disse cabisbaixo. No entanto, alegrou o momento. – Precisas de ajuda com isso? – riu-se vendo-a debater-se com o fecho do vestido.
- Se faz favor. – sorriu-lhe. Tom chegou-se a ela e fechou-lhe o vestido numa facilidade extrema. Beijou-lhe o ombro e virou-a para si. – Até à próxima.
- Não sei quando vai ser, Bea. – sussurrou-lhe ao ouvido. Ela arrepiou-se, só os verdadeiros amigos e as pessoas de quem ela era próxima é que se davam ao luxo de dispor daquele diminutivo, e vindo da boca de Tom soava-lhe a música.
- Porquê? – ela pendurou-se no seu pescoço e roubou-lhe um beijo.
- Porque vou começar uma Tour. – ela olhou-o sem perceber. – Vou uma semana para Londres, depois vou de férias com o meu irmão e quando voltarmos esperam-nos dois meses de longos concertos. – disse-lhe com um sorriso na cara.
- Vejo que gostas do que fazes… - sorriu-lhe e beijou-lhe o canto dos lábios. Beatriz virou-lhe costas e foi à mala. Escrevinhou qualquer coisa num papel e dobrou-o em quatro. Calçou os sapatos e ajeitou o cabelo ao espelho, olhou a maquilhagem e para variar não estava borrada. Aproximou-se dele e deu-lhe um forte e intenso beijo sobre os lábios carnudos. – Vemo-nos por aí, Kaulitz. – puxou o elástico dos boxers de Tom e colocou lá dentro o tal papel que escrevinhara. Tom olhou o gesto com cara de parvo. “Han?” perguntou-se mentalmente. Ouviu a porta de casa bater e voltou à realidade. Tirou o papel de dentro dos boxers e desdobrou-o.
- Bem, ao menos tenho maneira de contactar com ela. – sorriu ao ver o número de telefone de Beatriz escrevinhado no papel. Dirigiu-se ao banho, planeava tomar um duche e recuperar da noite.

(…)

Beatriz chegou ao bar num táxi, afinal não tinha maneira de voltar de casa de Tom e só se lembrara disso quando decidiu sair à pressa. Adorava ter ficado o resto da noite abraçada ao seu corpo e sentir o seu calor emanar contra si, mas desta vez não era mesmo possível. Apesar de ter um estatuto mais elevado naquele bar nocturno não se podia comportar como patroa, afinal não o era.
Entrou de rompante pela porta principal do bar e rumou directamente ao palco. A sala estava cheia, completamente a romper pelas costuras, e ao que parecia tudo a esperava pois bastou pôr um pé sobre o palco para a sala irromper em gritos de euforia. Não queria saber se estava de vestido nem se não, a única coisa que queria era despachar aquele trabalho de uma vez por todas. Fechou os olhos e comandou o corpo como se fosse ele a fazê-lo. Não podia negar, sentia qualquer coisa pelo Tom, não sabia o quê nem porquê mas sabia que sentia. Havia qualquer coisa nele que a atraía. Talvez o cheiro, talvez o corpo, talvez a sua maneira de ser, talvez o seu estilo, não sabia! Estava confusa em relação àquilo que Tom lhe dissera à cerca de meia hora atrás. Ele ia, literalmente, deixá-la. Quer dizer, literalmente não, eles nunca tinham dito que estavam juntos por isso era impossível ele deixá-la, mas de qualquer das maneiras, na sua cabeça a coisa dava-se. Provavelmente é por Beatriz ser mulher que estes pensamentos ocorrem, mas isso é só a minha opinião.
Pediu a alguém do público que lhe desapertasse o vestido e imediatamente ao palco subiram dois homens. Um loiro e um moreno. Um de olhos azuis e outro de olhos avelã. Beatriz olhou o loirinho de olhos azuis? Não. Nem se deu ao trabalho disso, o rapaz moreno e de olhos avelã parecia ter muito mais parecenças com aquele por quem começava a ficar, irremediavelmente, apaixonada. Pondo uma mão no peito do loiro empurrou-o para fora do palco e virou costas ao moreno, de maneira a que ele fizesse o que ela tinha pedido. Roçou o corpo no dele e sorriu-lhe. Deixou o vestido deslizar pelas suas pernas e atirou-o para trás das suas costas. Elevou o corpo no varão e deu o espectáculo da noite.

*

Porque será que lhe fazia confusão o facto de Beatriz ir trabalhar? Talvez porque o trabalho dela implicasse sexo com outros? Sim, talvez mas só, apenas e inteiramente isso: talvez.
Deitou-se sobre a cama e tentou apagá-la da mente. No entanto, apercebeu-se que era missão impossível. “Tom não há coisas impossíveis no mundo!” contrabalançou com o inconsciente. “Há, e esta é uma delas.” Podia jurar que a mente lhe tinha respondido, mas ignorou o comentário e levantou-se da cama. Deu duas ou três voltas ao quarto e decidiu ir até à cozinha. Precisava de beber algo fresco a ver se acordava da constante dormência que era Beatriz.
Dirigiu-se ao frigorífico e retirou uma das garrafas de água vertendo o líquido para um dos copos que retirara do armário. Arrastou-se até ao sofá onde ligou a televisão e ficou feito estúpido a ver publicidade.
Olhou o relógio do DVD. “São 2 da manhã, devem começar as televendas.” Pensou pacificamente. As horas passaram, a água secou no copo e na garrafa e Beatriz continuava mais que hidratada no pensamento do Kaulitz Sénior. Estaria a endoidecer? Estaria a ficar completamente chéché do miolo? Certamente até estaria, mas não era do miolo era por ela!
- Merda. – murmurou voltando à cozinha arrumando o que tirara do lugar. Subiu dois degraus e deu de caras com o irmão.
- Eh cara de cu, que foi? Não tens sono? – perguntou Bill coçando um olho.
- Sono? Sono tens tu. – disse-lhe mal humorado, passando-lhe à frente, deixando Bill encostado à parede a olhar para ele – Ah, e cara de cu és tu! – atirou.
- E eu por acaso, assim só por acaso sou teu gémeo. – gozou. Tom fulminou-o e Bill jurou nunca mais se levantar durante a noite quando o irmão dormisse com alguém ali em casa, ele ficava pior que estragado. “Não me digam que a gaja lhe trocou o nome outra vez?!” riu-se consigo mesmo e olhou as horas do relógio à sua frente. – 4 da manhã?! – decidiu virar costas e voltar à sua adorada cama antes de se pôr a fazer as malas.

(…)

Chegou a casa no habitual ritual. Dirigiu-se ao quarto de Ryan e dando-lhe um beijo terno na testa aconchegou-lhe os lençóis.
Sentou-se no sofá da sala sentindo os pensamentos correrem por si a alta velocidade. Estava a deixar-se envolver demais naquilo que começou a ser apenas sexo de uma noite com confusões de nomes à mistura. Estava a começar a deixar-se levar pelo seu coração que há vários anos não batia por ninguém. Estava a ficar caidinha por ele e ainda nem tinha descoberto porquê, e isso intrigava-a, fazia-lhe confusão. Nunca fora rapariga de se apaixonar ao primeiro olhar ou ao primeiro encontro, ok é certo que não era a primeira vez com Tom mas, ainda assim, havia tanta coisa nele que ela não sabia. Porque raio deixar-se levar na ignorância? Já tinha sofrido demais por ser ignorante e, talvez, até inocente. Tinha sentido isso na pele aos 17 anos de idade quando perdeu ambos os pais e a irmã. Até hoje nenhum pensamento relativo a isso lhe dava descanso. A única coisa que pensava era que quem devia ter morrido naquele dia era ela, não eles.

[Flashback]

- Pai! Deixa-me ir! – disse Beatriz farta de toda a situação criada em torno do seu namorado.
- Não! Eu não te vou pôr outra vez nas mãos daquele estupor! – ripostou.
- Mas… - foi interrompida.
- Mas nada Beatriz. – a mãe tinha-se imposto. – Eu e o teu pai não vamos deixar passar esta situação impune, ele vai aprender que isto… - apontou um dos cortes e uma das nódoas negras presentes no corpo da filha - … não se faz a ninguém. – Beatriz deixou escorrer uma lágrima. Eles não sabiam o quão perigoso ele podia ser. Eles não faziam ideia daquilo que ela já tinha passado nas mãos dele. Não faziam. Para além de dois ou três cortes e algumas nódoas negras, Beatriz era também marcada psicologicamente.
Chamava a Rafael seu namorado, mas ele não tinha perfil para isso, a única coisa que ele sabia fazer, na realidade, era roubar e drogar-se. Ela martirizava-se por se ter apaixonado por ele, por aquele olhar azul-marinho, por aqueles caracóis aparentemente perfeitos, que afinal não o eram. Pensou em não voltar a apaixonar-se à primeira vista, a coisa corria sempre mal.

- Mãe, pai…? – Johanna tinha-se aproximado dos três elementos.
- Vai para o quarto. – pediu Beatriz à irmã.
- Não, eu também quero ir passear. – aquela voz doce de uma rapariga de três anos de idade parecia implorar.
- Eu acho melhor não. – a mãe olhou a pequena e sorriu-lhe. – Eu e o pai vamos fazer uma coisa muito importante, ficas com a Bea amor. – beijou-lhe a testa. Beatriz suspirou, porquê todo aquele aparato?
- O que é que vocês pensam fazer com ele? – perguntou.
- A polícia irá connosco. – o pai lançou a bomba e Beatriz arrepiou-se.
- Posso ir? – era Johanna – Vá lá. – pediu.
- Ok, rapariga. – o seu pai sorriu-lhe. – Tu ficas aí. – avisou Beatriz.
- Sim, pai. – baixou a cabeça e sentou-se no sofá ouvindo a porta bater e os risos de Johanna ecoarem.

Aquela noite não podia ter sido pior. A polícia entrara em contacto com ela e informou-a que o seu pai, a sua mãe e a sua pequena irmã de três anos tiveram morrido num trágico acidente de viação.
“Devia ter sido eu.”

[/flashback]

Tinha todas estas memórias esquecidas, tinha todo este aparato esquecido há excepção da culpa pela morte dos pais e da irmã.
Beatriz culpava-se é certo, mas tudo aquilo que se tinha passado à volta era pura história. Nada mais que isso, afinal teve que crescer para dar de caras com uma vida que não era a sua e, como tal, teria que abdicar um pouco da Beatriz e ser Hannah por uns tempos.

- Mãe? – Ryan chegava à sala, descalço e no seu pijama azul do Mickey.
- Não consegues dormir, amor? – perguntou levantando-se do sofá dirigindo-se a ele elevando-o no colo.
- Tive um sonho mau. – disse aconchegando-se no regaço da mãe.
- Que se passava nesse sonho? – sentou-se novamente no sofá, mas desta vez com Ryan aninhado em si, de cabeça no seu ombro.
- Tu tinhas um acidente com um carro… - disse a algum custo. – E depois havia uma ambulância e muitas pessoas. – explicou com alguma dificuldade em articular as palavras mais complexas.
- Mas eu estou aqui, Ry. – disse-lhe fazendo-lhe festas pelo cabelo escuro (era a única coisa que tinha herdado do pai). – E estou bem, não me vai acontecer nada. – beijou-lhe a testa. Ele levantou a cabeça e encarou os olhos negros da mãe, demasiado semelhantes aos seus.
- Posso dormir contigo hoje? – perguntou inocentemente.
- Claro que sim, amor. – sorriu-lhe e Ryan limpou uma lágrima que escorria sobre a sua face branca. Aninhou a cabeça no pescoço de Beatriz e deixou-se levar pelo sono.

1 comentário:

  1. Há qualquer coisa nele que nos atraí a (quase) todas ;$
    *****
    - Eh cara de cu, que foi? Não tens sono?
    - Sono? Sono tens tu. (...) Ah, e cara de cu és tu!
    - E eu por acaso, assim só por acaso sou teu gémeo.


    AHAHAHA xDD

    *****
    O Ryan é tão fofo *.*

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