- TOM! LEVANTA-TE! – berrava Bill, para variar. – Temos avião para apanh… - interrompeu-se ao entrar de rompante no quarto do irmão e dar com ele completamente vestido e de malas feitas, prontas a serem levadas para o carro.
- Bom dia para ti também meu caro irmão, e sim eu sei que temos um avião para apanhar, por isso se fizeres o favor de ir vestir qualquer coisa eu não me importava e os seguranças também não porque tinham que esperar menos. Ah! E veste alguma coisa confortável, não leves as tuas inovações para o avião porque pode fazer interferência nas máquinas de detecção de metais e coisas potencialmente explosivas. Agora, se me dás licença tenho que ir pôr isto lá em baixo. – Tom passou por ele e Bill seguiu-o com o olhar. Estava parvo, que raio de discurso tinha sido aquele?
- Erm, está bem. – conseguiu balbuciar e dirigir-se ao quarto secar o cabelo e envergar umas calças de ganga e uma camisa negra aos quadrados.
Tom tinha passado a noite em claro. Tinha ponderado demasiadas vezes se ia ter com Beatriz ou não mas optou por não ir, não queria estar sempre em cima dela e, além disso, ao que parecia, já se tinham ‘despedido’.
Afinal, o que é que ele estava a fazer? Ou melhor, o que é que ele estava a sentir?! No seu íntimo andava todo trocado, ela trocava-lhe as voltas mesmo não estando presente fisicamente! Isso irritava-o, nunca tinha sentido tal coisa por uma mulher, porque é que será que ela era diferente? O problema punha-se em que ele não arranjava nenhuma explicação para esse dito problema.
- Estou pronto! – Bill cortou-lhe os pensamentos.
- Vamos então. – levantou-se do degrau onde se mantinha sentado e entrou na carrinha de vidros fumados que os ia levar até ao aeroporto. Lá encontrar-se-iam com David Jost, Georg e Gustav e juntos partiriam rumo a Londres para descobrir aquilo a que já chamavam de Humanoid City.
(…)
- Ryan! – chamou pelo filho entrando no seu quarto e abrindo-lhe as cortinas da janela deixando entrar os raios de sol que, naquele dia, se faziam vislumbrar na cidade de Berlim. – Ry? – abanou-o e ele refilou, típico de uma criança.
- Quero dormir.
- Tens que ir para a escola. – tirou-lhe os cobertores e levantou-o – ‘Bora! – sorriu-lhe e Ryan, já no colo dela, encostou a cabeça no seu ombro.
Beatriz fez o rumo de todas as manhãs. Depois de levantar, lavar e vestir o membro mais novo daquela casa dirigiu-se à cozinha preparando o pequeno-almoço.
- Bom dia. – Sofia aparecia.
- Bom dia, cara de sono.
- Ai, dormi mal hoje. – queixou-se. – Deve estar alguma bomba para cair aqui em casa. – Beatriz olhou-a.
- Tipo o quê?
- Sei lá. – encolheu os ombros. – Vou tomar banho e esquecer os nervos, tenho uma apresentação oral na faculdade! – disse.
- Boa sorte! – desejou e ouviu um “Obrigado” por parte dela. – Ryan, não adormeças. – avisou o pequeno que, mais tarde ou mais cedo, adormecia sobre a taça de cereais.
*
- Isto hoje foi rápido. – comentou Georg enfiando um gorro na cabeça enquanto punha a mochila às costas. Referia-se às normas de segurança dos aeroportos.
- Ya, estranho. – comentou Gustav.
- Cá para mim, foi do Bill não trazer adereços esquisitos! – gozou.
- Ah que graça! – Bill empurrou-o e uma maré de gritos foi ouvida.
- Pessoal, não têm tempo por isso não parem para dar autógrafos! – o segurança avisou dando-lhes passagem.
- Ok. – Bill respondeu por todos. Acenaram aos fãs presentes.
- Os skittles? – perguntou Tom a Bill que ia sentado ao seu lado enquanto vasculhava a mala à procura dos ditos skittles.
- Não sei, não foste tu que os arrumaste? – perguntou.
- Provavelmente. – disse – Agora onde?
- Não sei. – Tom olhou-o. – Que foi?
- Paras de dizer “não sei”?
- Não sei! – riu-se. Tom encostou a cabeça ao banco. – O que é que se passa? – Bill encostou também a cabeça e virou-se para o irmão. – Que é que te aconteceu? Ainda é a miúda? – Bill sabia perfeitamente aquilo que se passava na vida do irmão, não era propriamente preciso ele contar-lhe. Tom voltou a cabeça para ele. – Já vi que sim. Mas o que é que te faz ficar assim? – perguntou tentando perceber a questão.
- Ela, apenas ela. Há qualquer coisa em mim que não existia antes dela aparecer.
- O quê? – perguntou.
- Não consigo descobrir.
- Sentes alguma coisa por ela? – Tom suspirou com a pergunta. Sim, também já tinha posto aquela hipótese e se calhar era a mais correcta, mas ainda assim não sabia e a confusão continuava a ocupar o seu pensamento e o seu coração.
- Talvez. – sim, era um talvez não mais que isso.
- Talvez? – Bill esboçou um sorriso, estaria o irmão a ceder às correntes do amor e a deixar-se levar pela tal Beatriz? Afinal as suas investidas para Tom começar a acreditar no amor, não tinham sido propriamente despropositadas. – O que é que sentes quando estás com ela?
- Confusão. Adrenalina. Prazer. Calor. Perfeição. Sei lá tanta coisa!
- Wow, isso vai de vento em popa.
- Oh Bill, não gozes. – Bill pôde ver pelo seu tom de voz e pelo brilho dos seus olhos que Tom estava fragilizado com toda esta situação. A rapariga devia ser mesmo muito especial para conseguir deixar o seu irmão naquele estado algo psicótico.
- Eu não gozo, mas sabes que podes contar comigo, não sabes? É escusado passares noites em claro sozinho. – disse-lhe lembrando-se daquela manhã.
- Eu sei, obrigado. – sorriu-lhe e fechou os olhos, planeava dormir alguma coisa.
(…)
Ligo-lhe. Não lhe ligo. Ligo-lhe. Não lhe ligo. Ligo-lhe. Não lhe ligo.
Andava de um lado para o outro do seu quarto de hotel com o papel que ela lhe pusera dentro dos boxers numa mão e o telemóvel topo de gama na outra. Pela contagem mental que fazia, quase parecia aquela coisa estúpida do malmequer bem-me-quer, penso eu. Mas… devia mesmo ligar-lhe? Não estava com ela há dois dias mas sentia falta dela, do seu corpo, do seu cheiro, das suas mãos e, principalmente, dos seus lábios. Começava a dar em maluco, mas que coisa é que ela tinha que todas as outras mulheres com quem ele já tinha estado não tinham? “Ela é perfeita.” Tom tinha urgentemente de ter uma conversa séria com a sua consciência para que ela não lhe respondesse sempre que não era necessário! No entanto, a consciência estava certa. Aos seus olhos Tom achava aquela mulher perfeita e única. Talvez fosse isso que fizesse o seu coração bater mais forte quando a imagem dela aparecia nos seus sonhos, ou quando sentia a sua respiração pesada contra o seu peito despido. Talvez fosse todo o conjunto que Beatriz era que o fazia cair aos seus pés sem que ela proferisse palavra. Talvez toda a sua essência lhe desse qualquer coisa mais do que o que ele, até ao momento, procurara.
Ia marcar o número quando alguém bateu à sua porta.
- Quem é? – perguntou enfadado.
- Jost.
- Entra.
- Posso mesmo? – perguntou pondo a cabeça dentro do quarto.
- Sim, entra. – sorriu-lhe.
- Soaste-me a chateado.
- Não te preocupes. Que se passa? – perguntou.
- Vens jantar? – disse – Amanhã convinha levantarem-se cedo para irem ver o palco e assim. – explicou.
- Ok, dá-me dez minutos que eu desço já.
- Está bem. – saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. Tom pegou novamente no telemóvel, marcou o número e decidiu ligar-lhe.
(…)
Beatriz era penetrada contra a fofa cama de casal que o quarto negro e vermelho possuía. Aquele quarto que já a tinha visto unir-se a Tom.
Tom… o nome dele ecoava pela sua cabeça várias vezes ao dia e sempre acompanhado de uma arritmia cardíaca. Seria mesmo possível?
Sentiu o homem que estava por cima de si contorcer-se e, deixando-o gritar um pouco mais alto, saiu debaixo dele.
- Bem, tu és mesmo boa naquilo que fazes. – ele elogiou. Há anos para cá que Beatriz estava habituada a todas aquelas conversas meloso-porcas, mas agora, agora aquilo metia-lhe mais nojo que qualquer outra coisa. Sentia-se na constante eminência da traição, talvez a ela mesma por continuar a deixar que violassem o seu corpo daquela forma sabendo que o seu coração não estava naquela cama.
Ouviu o telemóvel tocar mas nem se deu ao trabalho de ver quem era, não estava com disposição para isso. Vestiu-se e saiu do quarto, não lhe apetecia minimamente continuar a ouvir as bocas daquele homem, quando mais depressa abandonasse aquele clube melhor.
- Que pontaria. – Tom olhou as horas. – Trabalho. – bufou ironicamente. Beatriz não lhe tinha atendido o telemóvel, provavelmente estava ocupada em sexo com outro. Sim, Tom estava totalmente passado só com esse pensamento. Pensar que mais alguém podia sentir aquele corpo que lhe pertencia apenas a ele, dava-lhe nervos. “Porque é que ela deixa!?”
Decidiu deixar o assunto e dirigir-se ao restaurante do Hotel.
Isto está tão bom que eu nem sei que dizer :O
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